Introdução. Durante a gravidez, o organismo materno passa por diversas adaptações e alterações fisiológicas fundamentais para sustentar o feto em crescimento e preparar o parto. Entretanto, essas alterações fisiológicas acabam por alterar, minimizando ou maximizando, os efeitos dos medicamentos no organismo materno e sobre o feto. Após a tragédia da talidomida ocorrida entre 1950 e 1960, a utilização de medicamentos por gestantes e seus efeitos sobre o feto passou a ser objeto de grande preocupação. Porém, realizar estudos intervencionistas nessa população especial, é praticamente impossível e muito arriscado. Logo, se mostra importante a incorporação dos métodos epidemiológicos para estudar essa população. No Brasil, os estudos de utilização de medicamentos revelam que a média de consumo é de dois medicamentos por gestante. Esse fato impulsiona iniciativas de pesquisas em nível local, na tentativa de descrever perfis de utilização e padrões de prescrição e de consumo, já que não é completamente conhecido os efeitos teratogênicos e geradores de má formação congênita dos medicamentos utilizados no período gestacional. Objetivo. Avaliar a utilização de medicamentos em gestantes com ênfase na segurança das prescrições em um pronto socorro obstétrico de um hospital público do Distrito Federal. Objetivos específicos. Conhecer o perfil de gestantes atendidas no pronto socorro bem como os principais motivos de internação. Descrever e classificar os fármacos e as principais classes terapêuticas prescritos para gestantes, usando a classificação Anatômica Terapêutico Química (ATC/OMS). Analisar o perfil dos fármacos prescritos de acordo com critérios de segurança e o período da gestação das gestantes atendidas em um pronto socorro obstétrico. Criar protocolo que otimize o processo assistencial no que se refere a segurança do paciente Métodos. Foi realizado um estudo epidemiológico, retrospectivo, observacional, descritivo, em gestantes internadas por mais de 24hs no pronto socorro obstétrico no período de janeiro a dezembro/2016. Os dados foram coletados e organizados em um banco de dados no Microsoft Office Excel 2013. As variáveis qualitativas foram tabuladas e apresentadas em frequência e percentual por categoria. As variáveis quantitativas, foram calculadas medidas de posição (média, mediana e quartis) e dispersão (desvio padrão). Foi adotada a classificação de risco dos medicamentos conforme o risco associado ao seu uso durante a gravidez adotada pelo Food and Drug Administration (FDA – Estados Unidos). As análises foram realizadas por meio do software R, versão 3.5. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética por meio do parecer no 2.434.224. Resultados. Foram estudadas 382 gestantes. Prevaleceu gestantes com idade entre 18 e 45 anos (n=361, 94%). O aborto foi a principal causa de atendimento 60% (n=229). 31% dessas mulheres (n=120) relataram ter tido 1 aborto ou mais. 42%(n=159) das gestantes internadas encontravam-se com idade gestacional de 5 a 10 semanas. Média de 4 medicamentos prescritos por gestantes. Dos 70 medicamentos
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prescritos, 20% (n=14) pertencia à classe dos antibacterianos; 10% (n=7) analgésicos; 8% (n=6) medicamentos para o sistema cardiovascular; 8% (n=6) soluções para irrigação; 5% (n=4) antieméticos e 5% (n=4) uterotônicos. Prevaleceu a prescrição de medicamentos com nível de segurança B (medicamentos cujos estudos com animais de laboratório não demonstraram risco fetal mas não existem estudos adequados em humanos) e C (medicamentos para os quais os estudos em animais de laboratório revelaram efeitos adversos ao feto, mas não existem estudos adequados em humanos). Porém, houve casos de utilização de medicamentos com nível D, 13%, (medicamentos cuja a experiência de uso durante a gravidez mostrou associação com o aparecimento de más-formações, mas que a relação risco-benefício pode ser avaliada) e X, 6%, (medicamentos associados com anormalidades fetais em estudos com animais e em humanos e ou cuja relação risco-benefício contraindica seu uso na gravidez). Para a idade gestacional de 5 a 20 semanas predominou o uso de medicamentos com classificação B e C, 25% e 37%, respectivamente. Porém, foi a faixa etária gestacional que também fez mais uso de medicamentos da classe X (5%). Informações ausentes no prontuário eletrônico: 15% não informava número de gestações, 17% não possuíam número de partos,17% não informava número de abortos já ocorridos e 21% sem qualquer informação sobre idade gestacional da paciente no momento da internação. Conclusão: Esses resultados mostram a necessidade de se ter cautela na prestação da assistência e uma atenção redobrada com a prescrição e administração dos medicamentos, principalmente a essa população em especial, pois o uso incorreto pode acarretar malformações, deficiências funcionais, retardo do crescimento e até mesmo a morte do feto. O risco acontece pelo fato de não existir barreira de proteção entre o feto e a mãe para evitar o contato das substâncias ingeridas pela gestante. A placenta é uma membrana permeável à maioria das substâncias ingeridas pela mãe e não atua como barreira de proteção. Vale ressaltar que um maior cuidado deve ser tomado, principalmente, durante os três primeiros meses de gestação (1 a 12 semanas) pois é o período em que se inicia o desenvolvimento dos órgãos do embrião. Logo, é notório a importância de se ter um serviço de farmácia clínica prestando a assistência tanto ao paciente quanto à equipe de saúde, afim de garantir o uso racional e seguro de medicamentos durante o período de internação. Visando pôr em prática a melhoria da assistência e garantindo uma melhor segurança do paciente nesse pronto socorro obstétrico, como produto do mestrado, a equipe de farmácia clínica se estruturou e passou a avaliar e acompanhar diariamente, não somente as gestantes, mas também, todas as mulheres que ficam internadas nesse pronto socorro. Como produto deste trabalho foi produzido um artigo, intitulado: “Segurança no uso de medicamentos em gestantes em um pronto socorro público do Distrito Federal”, submetido a Revista Brasileira de Enfermagem – Reben. Foi elaborado um protocolo para o acompanhamento
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farmacoterapêutico dessas grávidas internadas. Esse trabalho permitiu a inserção no pronto socorro obstétrico do serviço de assistência prestado pela farmácia clínica, além da criação desse protocolo de acompanhamento farmacoterapêutico, o qual padronizou a assistência prestada pelas farmacêuticas nesse setor. Por meio do protocolo é feito o registro dos medicamentos em uso pelas gestantes durante a internação, bem como avaliada as doses, as posologias, as vias de administração, o tempo de tratamento e as potenciais interações medicamentosas, principalmente no que se refere ao uso de antibióticos. A conciliação medicamentosa e todas as informações essenciais da história pregressa das pacientes é feita e registrada em prontuário eletrônico. Tanto os exames laboratoriais como as prescrições são monitorados diariamente e registrados nesse formulário. Ainda como produtos desse trabalho, foi publicado na revista de Comunicação em Saúde, o artigo: A legislação sobre o Aborto nos Países da América Latina: uma Revisão Narrativa, foi feita apresentação oral do resumo submetido ao 1º Congresso de Ciências Farmacêuticas do Centro-Oeste 2019: Estudo de utilização de antimicrobianos em gestantes atendidas em um pronto socorro obstétrico de um hospital público do Distrito Federal e foi apresentado um banner ao Congresso de Farmácia Hospitalar XII Brasileiro e VIII Sul-Americano do resumo: Estudo de utilização de medicamentos em mulheres atendidas em um pronto socorro obstétrico de um hospital público do Distrito Federal.