Este é um estudo de caráter sócio-antropológico sobre cultura punitiva, ilegalismos e encarceramento na região do Alto Solimões/Amazonas, região fronteiriça Brasil/Colômbia/Peru. A pesquisa abrange, predominantemente, as cidades de Benjamin Constant e Tabatinga e, em alguma medida, suas articulações com as cidades limítrofes, Islândia/Peru e Letícia/Colômbia, respectivamente. Define-se como objetivo geral da pesquisa: Captar e compreender as variações locais nas percepções e práticas de julgamento, condenação e punição sobre os autores de ilícitos penais, atentando para as particularidades socioculturais e avaliações morais que as determinam, bem como as negociações entre políticas e práticas oficiais e não oficiais na configuração de um sistema punitivo local. A partir deste objetivo mais amplo, estabeleço como objetivos específicos: identificar as variações discursivas sobre práticas (i)lícitas no que tange ao julgamento moral predominante na região; verificar as possíveis variações existentes nos processos de condenação e punição(oficiais e extra oficiais) em decorrência destes julgamentos; identificar as continuidades e rupturas existentes entre formas oficiais e não oficiais de julgamento, condenação e punição; apresentar um sistema classificatório das práticas lícitas e ilícitas, bem como suas gradações dentro do padrão local de moralidades e sua influência sobre as decisões oficiais. A metodologia de pesquisa fundamentou-se na perspectiva etnográfica com prática intensiva de campo. Visou-se assim, a aproximação aos meandros do cotidiano para identificar as características e variações nas práticas, percepções e classificações sobre os ilícitos penais, julgamentos morais e punições recorrentes na região pesquisada. A discussão teórica articula cultura punitiva, práticas ilícitas e estratégias (oficiais e não-oficiais) de punição e encarceramento em um contexto fronteiriço marcado por uma grande diversidade cultural e étnica que produz fronteiras com significados e abrangências diversas. Os achados etnográficos permitem reconhecer o agenciamento de indivíduos e grupos que podem produzir quebras nas regras oficiais. Trata-se, portanto, de ressituar nos fluxos do cotidiano, nas racionalidades locais, configurações próprias no que tange ao poder de Estado.