Introdução: O envelhecimento dos privados de liberdade é uma realidade,
devido ao aumento da expectativa de vida do brasileiro nos últimos anos. Assim,
a entrada na prisão implica, necessariamente, num conjunto de readaptações,
tanto na gestão do tempo do quotidiano prisional, como na gestão das relações
sociais, profissionais e familiares. Diante do exposto, faz-se pertinente manter o
vínculo familiar, as visitas, para suporte psicológico e o senso de comunhão
social. Objetivo: Caracterizar os dados de saúde, criminais e visitas,
compreender seus sentimentos, repercussões do encarceramento e as
possibilidades de reintegração familiar dos idosos privados de liberdade.
Métodos: Trata-se de um estudo transversal retrospectivo com duas
abordagens: uma quantitativa e uma qualitativa. Os dados quantitativos foram
comparados com a literatura e os qualitativos discutidos sob os pressupostos da
Teoria das Representações Sociais. A coleta de dados ocorreu no período
de março a junho de 2019. A caracterização dos idosos foi realizada por meio
de informações presentes nos prontuários que constavam das seguintes
variáveis: sexo, idade, estado civil, escolaridade, cor da pele, doenças,
deficiência física, medicações, artigos enquadrados, tempo de condenação e
perfil de visitas. A segunda etapa realizou-se por meio de um roteiro de entrevista
semiestruturado, o qual foi aplicado aos idosos que recebiam visitas. As
entrevistas foram audiogravadas, transcritas e para o processamento dos dados
foi empregada a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo. Resultados: Os dados
quantitativos demonstram que dos 41.483 privados de liberdade pesquisados,
276 eram idosos, sendo 92,8% do sexo masculino, 63,8% na faixa etária dos 60
a 65 anos, 29,7% casados, 65,9% com até 8 anos de estudos e 63,8% de cor
branca. Foi possível observar que 60,1% possuem algum tipo de doença,
predominando (40,9%) apenas uma e 1,8% apresenta algum tipo de deficiência.
60,1% fazem uso de algum tipo de medicamento, com predomínio de uso de 1
a 4 medicamentos (80,7%). Ao que tange aos artigos enquadrados, 59,1%
cumprem a pena referente a apenas um tipo de crime, 24,3% têm tempo de pena
entre 10 e 15 anos, e 44,6% recebem visitas, sendo que a maior frequência de
visitação ocorre mensalmente (41,5%). As falas dos idosos privados de
liberdade permitiram compreender suas representações sociais quanto aos
significados do vínculo familiar (bom relacionamento, educação rígida e vínculo
fragilizado), das visitas que recebem (sensação de pertença, necessidade de
convívio familiar e expectativa de reencontro), seus sentimentos sobre o
encarceramento (sentimento de arrependimento, perda de convívio, apoio
familiar, perda de autonomia e sensação de injustiça) e suas expectativas de
vida após a liberdade (serventia a Deus, reintegração familiar, ressocialização e
desesperança). Conclusões: Os dados obtidos permitiram caracterizar a
população idosa privada de liberdade pesquisada e compreender seus
sentimentos diante dos relatos dos idosos que evidenciaram a importância do
relacionamento e apoio familiar, visitação e do retorno à vida social após sua
liberdade.