Viva o povo brasileiro foi traduzido para diversos idiomas, dentre as línguas estão o alemão, o holandês, o sueco, o francês e o espanhol. Todavia, para a língua inglesa, o próprio autor realizou uma versão para este idioma, por consequência, uma autotradução. O romance foi publicado, em 1984, e sua autotradução, An invincible memory, em 1989. Neste estudo, analiso o uso do sufixo -inho em corpus comparável monolíngue, a fim de verificar se o sufixo -inho é uma característica linguístico-cultural brasileira por meio de comparações e contrastes em subcorpora contendo textos literários lusitanos, brasileiros e textos traduzidos para o português, e, com isso, poder tratar o uso do sufixo por João Ubaldo não apenas como aspecto estilístico seu, mas como uma particularidade que parece existir proeminentemente no português brasileiro. Além disso, investigo a circulação de obras ubaldianas traduzidas, de forma a observar se houve indícios que motivaram a realização da segunda autotradução ubaldiana e perceber as implicações linguístico-culturais dessa circulação sobre o texto autotraduzido. Por fim, cotejo a mediação intercultural autotradutória realizada por João Ubaldo no corpus paralelo bilíngue Viva o povo brasileiro/An invincible memory com atenção especial sobre as palavras sufixadas por -inho. Esta pesquisa baseia-se em autores que descrevem aspectos morfológicos (FERRARI NETO, 2014; GONÇALVES, M. 2006; etc.), em pesquisadores que apresentam aspectos socioculturais que consideram as interfaces com a sociedade, a língua e a cultura (FURTADO DA CUNHA, 2016; SOUZA, 2015; etc.), em teóricos que expõem sobre a estilística (MARTINS, 2011; MONTEIRO, 2009, 2002; SIMPSON, 2004, 1997; etc.), a linguística de corpus (BERBER SARDINHA, 2004; VIANA, 2010, 2008; etc.) e a estilística de corpus (FISCHER-STARCKE, 2010), mas, principalmente, em autores que estão inseridos nos estudos tradutológicos (AUBERT, 1998; GENTZLER, 2009; HEILBRON, 1999; OUSTINOFF, 2011; etc.). Os resultados, no corpus comparável monolíngue, apontam que o uso do sufixo -inho pode estar atrelado ao comportamento sociolinguístico-cultural do homem cordial descrito por Holanda (1995) como aquele que se abstém da polidez para dar lugar à intimidade e que, muitas vezes, revela-se em seu socioleto através do uso quase irrestrito e frequente do sufixo -inho, logo, uma característica sociolinguístico-literário-cultural brasileira. Além disso, a análise também parece apontar que o segundo romance ubaldiano autotraduzido pode ter ocorrido devido a fatores inerentes à circulação de outras obras literárias ubaldianas traduzidas. Por fim, o corpus paralelo bilíngue apresenta uma leve vantagem numérica para as traduções indiretas em comparação às traduções diretas. Consequentemente, tais quantificações indicam que a tradução de palavras sufixadas por -inho está mais atrelada a uma mudança considerável da forma e/ou da função do sufixo -inho de maneira a indicar uma domesticação por parte da autotradução. Por outro lado, é notório que a diferença numérica não é tão díspar e, por isso, também podem corroborar para uma perspectiva de que a autotradução se guiou por uma ideologia de não apagamento de aspectos linguístico-culturais. Em vista disso, há um equilíbrio entre resistência e adaptação à língua-alvo e suas culturas correspondentes, isto é, uma autotradução que parece conter estrangeirização e domesticação em níveis semelhantes.