A presente dissertação se propõe a abordar o tema do desejo sexual em mulheres brasileiras, em relacionamentos prolongados. O desejo sexual é compreendido como uma interação de fatores biológicos, socioculturais, psicológicos e interpessoais, e tem despertado interesse da comunidade científica por ser a sua diminuição, a queixa sexual mais frequente entre as mulheres. Especialmente nos relacionamentos prolongados, evidencia-se uma assimetria de desejo entre homens e mulheres, em detrimento destas últimas. Diante disso, este estudo teve como objetivo compreender melhor as especificidades do desejo sexual em mulheres brasileiras, considerando as características culturais da nossa sociedade. Ele está constituído de três artigos. O primeiro teve como objetivo avaliar o que tem sido pesquisado sobre o desejo sexual das mulheres brasileiras na comunidade científica, e para tanto, foi realizada uma revisão sistemática da literatura nacional e internacional, de 2008 a 2018, resultando numa seleção final de 35 artigos. Conclui-se que a maior parte dos artigos mantem uma perspectiva biológica para compreensão do desejo e poucos estudos tem uma perspectiva psicológica da sexualidade, com um recorte da amostra já delineado dentro desse espectro. O segundo artigo teve como escopo analisar a narrativa de mulheres com queixa de diminuição de libido, sob uma perspectiva dos estudos de gênero. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 11 mulheres selecionadas a partir de serviços de ginecologia, e as categorias encontradas apontam para a influência de uma educação sexista, da assimetria dos relacionamentos e do papel da maternidade, impactando negativamente a libido dessas mulheres. Com a mesma perspectiva dos estudos de gênero, o terceiro artigo buscou analisar qualitativamente o discurso de 12 mulheres, também em relacionamentos prolongados, que consideravam o seu desejo sexual muito bom. Observou-se que essas mulheres percorreram um processo de desvinculação dos papéis sexuais tradicionalmente atribuídos às mulheres, desromatizando o sexo, entrando em contato com os próprios desejos, estabelecendo relacionamentos amorosos mais simétricos, resultando em um exercício mais prazeroso da sua sexualidade. Essa dissertação evidencia o quanto a cultura contribui para a expressão do desejo sexual entre as mulheres e conclui que é necessário se pesquisar mais o desejo sexual a partir de perspectivas psicológicas e socioculturais de gênero, para que se tenha uma maior compreensão da sua complexidade.