INTRODUÇÃO: O envelhecimento da população é motivo de preocupação em virtude da complexidade dos problemas de saúde apresentados por essa faixa etária, destacando-se que, aproximadamente, 30% dos idosos são portadores de sintomas psiquiátricos ou algum transtorno mental, e essa condição nem sempre recebe a atenção necessária dos serviços de atenção primária. OBJETIVOS: Descrever a assistência à saúde mental prestada aos idosos no contexto da Estratégia Saúde da Família (ESF). MÉTODOS: Estudo descritivo, de corte transversal, realizado com idosos usuários da ESF de um município do interior paulista, em duas etapas: na primeira, foram revisados os prontuários de 219 idosos e identificadas as condutas médicas dos últimos 12 meses que antecederam à pesquisa; na segunda etapa, por meio de visitas domiciliares, os idosos foram avaliados quanto à presença de transtornos mentais, utilizando-se o questionário Self Reporting Questionnaire-20 (SRQ-20). RESULTADOS: Os 219 idosos passaram por 661 consultas médicas no período. Quanto aos motivos para consultas: 42,3% destinaram-se a obter receita médica; 34,5% referiram-se a queixas de diferentes sistemas; e 7,3% foram em busca de resultados de exames. As queixas principais relacionaram-se ao sistema osteomuscular e tecido conjuntivo, com 24%, seguidas das relacionadas aos sistemas digestivo e respiratório, ambos com 11,5%, e aos transtornos mentais, com 10%. As condutas mais prevalentes referiram-se a prescrições de medicamentos (70%), solicitações de exames (13%) e encaminhamentos para outros serviços (7,9%). Apenas sete idosos haviam recebido encaminhamento para serviços especializados em saúde mental. Os medicamentos psiquiátricos mais prescritos foram os ansiolíticos (55%) e antidepressivos (29,7%). O SRQ 20 foi aplicado em 183 idosos, dos quais 19,6% apresentaram escores acima de 7, o que sugere a presença de transtornos mentais. Os valores encontrados no gênero feminino foram estatisticamente superiores (X2=4,01, p=0,04). Dos idosos que responderam ao SRQ 20, 51 (27,9%) receberam prescrição de medicamentos psiquiátricos e não houve correlação entre ter ou não recebido prescrições e os escores encontrados no SRQ 20 (r de Spearman=0,11, p=0,12). O grupo de sintomas mais prevalente nas mulheres foi aquele relacionado a humor depressivo e ansioso, e nos homens, decréscimo de energia vital. DISCUSSÃO: Os motivos mais prevalentes das consultas revelam uma lógica de atendimento por demanda, pautada na queixa principal e em condutas essencialmente medicamentosas. Entre os medicamentos psiquiátricos mais prescritos, houve predomínio daqueles com risco para efeitos colaterais, como quedas e prejuízo cognitivo. Além disso, foram poucos os encaminhamentos para os serviços especializados em saúde mental, o que indica que os cuidados a tal especificidade são realizados essencialmente na ESF. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O atendimento à saúde mental do idoso necessita ser revisto. Medidas como avaliação por meio de instrumentos de rastreamento e melhor capacitação das equipes de atenção primária são necessárias.