Silva SAL. Terapia Nutricional, Evolução do Estado Nutricional e Desfecho Clínico em
Indivíduos Críticos Vítimas de Trauma Cranioencefálico: uma Coorte Retrospectiva
[Dissertação]. Brasília (DF): Escola Superior de Ciências -FEPECS; 2020, 84 p.
Introdução: O traumatismo cranioencefálico (TCE) é considerado uma importante
causa de morte e incapacidade em todo mundo. Múltiplas alterações metabólicas e
hidroeletrolíticas decorrentes do TCE geram um estado hipermetabólico que
associado a um intenso catabolismo levam a necessidades nutricionais específicas.
O suporte nutricional pode prevenir a perda da competência imunológica e diminuir a
morbidade, a mortalidade e o tempo de internação hospitalar associado ao
traumatismo craniano. Objetivos: O objetivo desta dissertação é compreender a
evolução do estado nutricional intra-hospitalar e analisar a relação entre a terapia
nutricional, a evolução do estado nutricional e os desfechos clínicos de indivíduos
críticos vítimas de TCE internados em uma UTI de referência em trauma do DF.
Elaborar um protocolo de assistência nutricional, baseado nos resultados encontrados
nesta pesquisa, que poderá ser utilizado pelas demais instituições que assistem
indivíduos com TCE. Método: Trata-se de um estudo do tipo coorte, retrospectivo e
analítico. Os dados foram coletados por meio dos registros em prontuário eletrônico.
A análise estatística foi realizada no software SPSS (versão 23.0, SPSS Inc., Chicago,
IL, USA). A associação e significância estatística foram testados pelo teste quiquadrado para as variáveis com distribuição simétrica e pelo teste de Mann-Whitney
para as variáveis com distribuição assimétrica. A correlação entre as variáveis foi
verificada pelo coeficiente de correlação de Pearson, nas variáveis que apresentaram
distribuição simétrica ou pelo coeficiente de correlação de Spearman nas variáveis
que apresentaram distribuição assimétrica. A curva ROC e curva de sobrevivência
foram utilizadas para avaliação da capacidade de predição dos desfechos pelas
variáveis relacionadas a terapia e estado nutricional. A presença de significância
estatística foi determinada conforme p-valor < 0,05. Resultados: Foram 308
participantes elegíveis, com média de idade de 36,28 ± 11,11 anos e 89% (n=276) dos
participantes eram do sexo masculino. O mecanismo de trauma mais frequente foi o
acidente de moto (24%). Em relação ao estado nutricional, houve diferença
significativa (p <0,001), com indivíduos bem nutridos no momento da admissão
(n=222, 90,98%) e desnutridos (desnutrição não grave e grave n=225, 92,21%) no
momento da alta da UTI. A taxa de mortalidade geral do estudo foi de 20,13% (n=62).
Os pacientes com alto risco nutricional pelo Score NUTRIC apresentaram uma taxa
de mortalidade significativamente maior (p<0,001) 33,33% (n=28) quando
comparados aos indivíduos com baixo risco nutricional 15,89% (n=34). Pela NRS2002 a taxa de mortalidade foi de 20,41% (n=10) nos indivíduos classificados como
alto risco nutricional e 20,47% (n=52) nos indivíduos de baixo risco nutricional. Foi
observado que os indivíduos que foram classificados como baixo risco nutricional pelo
Score NUTRIC apresentaram uma razão de chance (OR) de 2,63 (95% IC 0,21-0,68,
p<0,001) vezes maiores de não morrerem em comparação aos que apresentaram alto
risco nutricional. Já com relação ao rastreamento pela NRS-2002, não houve
diferença (95% IC 0,48-2,24, p=0,99). Com relação ao aporte nutricional avaliado na
primeira semana de internação na UTI, observou-se uma oferta calórica total de
8920,43 ± 3120,94Kcal (média de 18,2 ± 6,1Kcal/Kg de peso/dia) e proteica de 566,29
± 205,54g (média de 1,15 ± 0,41g de proteínas/Kg peso/dia). Observou-se correlação
significativa da oferta calórica com o tempo de internação, de ventilação mecânica e
com o peso no momento da alta da UTI (-0,160, p < 0,012; -0,228, p < 0,001; 0,305, p
< 0,001; respectivamente). Do mesmo modo, a ingestão proteica na primeira semana
de UTI correlacionou-se significativamente com o tempo de internação (-0,199; p <
0,002), de ventilação mecânica (-0,245; p < 0,001) e com o peso na alta da UTI (0,314;
p < 0,001). Os indivíduos que tiveram médio e alto consumo calórico na primeira
semana de UTI apresentaram uma razão de chance (OR) de 2,83 (95% IC 1,16-6,85,
p=0,02) e 4,04 (95% IC 1,59-10,31, p=0,00) vezes, respectivamente, maiores de não
morrerem em comparação aos que apresentaram baixo consumo calórico. Já com
relação ao consumo proteico, uma razão de chance de 2,8 (95% IC 1,12-8,12, p=0,03)
vezes maiores dos indivíduos que apresentaram alto consumo de proteínas não
morrem em comparação aos que tiveram baixo consumo proteico. Produtos
desenvolvidos: Foram desenvolvidos 3 artigos originais e um protocolo para
assistência nutricional. Conclusões: Os participantes não apresentaram
comprometimento do seu estado nutricional no momento da admissão hospitalar.
Entretanto, evoluíram de forma negativa com relação ao seu estado nutricional,
revelando um perfil de indivíduos desnutridos no momento da alta. O método de
triagem nutricional NUTRIC apresentou melhor desempenho para prever mortalidade
em indivíduos críticos vítimas de TCE quando comparado a NRS-2002, podendo ser
um instrumento de melhor opção, nesta população, para identificação de sujeitos que
podem se beneficiar com o início precoce de terapia nutricional agressiva. Baixas
ofertas calóricas e proteicas estão associadas ao maior tempo de internação
hospitalar, de ventilação mecânica e mortalidade, sugerindo que indivíduos críticos
vítimas de TCE podem se beneficiar com valores alvos mais altos. Foi elaborado um
protocolo de assistência nutricional, que poderá ser utilizado por instituições que
assistem indivíduos com TCE.