Em 2015, o governo federal delimitou, oficialmente, a região do Matopiba, composta por 337
municípios de quatro Estados (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), território onde avança
extensa fronteira agrícola, comandada pela soja, principal produto de exportação do Brasil. O
Matopiba constitui mais de 10% da produção nacional do grão. Projeções do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento indicam que tanto a produção de grãos como a área
plantada dobrarão nessa região em período de dez anos, até a safra de 2028/2029. O Matopiba
representa, também, parcela do bioma Cerrado e reúne os maiores remanescentes de
vegetação nativa deste, ao mesmo tempo rico em biodiversidade e ameaçado. Esta tese retoma
questão da literatura sobre fronteiras agrícolas sobre se fronteiras orientadas pela demanda
global por commodities avançam com sacrifício ambiental ou constituem oportunidade de
conservação. Para responder a essa pergunta, em contexto ampliado de sustentabilidade,
foram identificados, com base na análise dos discursos, quatro conjuntos de atores, na forma
de coalizões de produtores rurais, de organizações populares, de ambientalistas e de
compradores de soja. Essas coalizões compartilham crenças e atuam de forma coordenada
para expansão da fronteira, para barrá-la ou, ainda, para conter o desmatamento, que
acompanha seu avanço. As articulações entre coalizões esbarram na difícil conciliação de
interesses. Se a Moratória da Soja na Amazônia conseguiu frear o desmatamento na floresta
desde 2006, as negociações para conter o desmatamento no Cerrado esbarram no "direito de
conversão" defendido por produtores rurais e relativizam os compromissos com a
sustentabilidade assumidos pelas grandes tradings. O tema de garantia de territórios a
comunidades tradicionais no Matopiba encontra negociações ainda incipientes. A
sustentabilidade, como entendida em acordos internacionais, tem sido relegada a um segundo
plano.