A fitoterapia vem ocupando um espaço importante na terapêutica nos últimos anos. Por conta disto, o uso irracional desta prática também tem alcançado proporções altas. Assim, é de extrema importância que se realizem avaliações preliminares e estimativas da toxicidade de um produto natural que irá ser destinado à população, de modo que este possa ser utilizado com segurança. No Brasil, várias plantas medicinais têm chamado a atenção dos pesquisadores por conta de seus potenciais para tratamento do diabetes mellitus, que é uma doença caracterizada pela hiperglicemia crônica. A alta concentração de glicose no organismo gera diversas complicações microvasculares e macrovasculares nos pacientes, com alterações significativas nos marcadores bioquímicos de perfis glicêmico e lipídico, de funções renais e hepáticas e de estresse oxidativo. Neste contexto, as plantas da família Myrtaceae têm demonstrado efeitos benéficos na prevenção e tratamento da hiperglicemia e de outras complicações associadas ao diabetes mellitus, devido à presença de compostos fenólicos e saponinas em sua constituição química. As espécies Eugenia florida DC e Eugenia sonderiana O. Berg são consumidas de forma popular no Estado de Minas Gerais para esta finalidade, porém não apresentam comprovações científicas e, por isso, foram os alvos de estudo. No presente trabalho, realizaram-se a caracterização fitoquímica, a avaliação de toxicidade aguda em camundongos Swiss e a determinação dos efeitos antidiabéticos in vitro e in vivo em ratos Wistar dos extratos brutos hidroetanólicos obtidos das folhas de E. florida DC e E. sonderiana O. Berg. A caracterização química dos extratos das folhas revelou a presença de compostos fenólicos, flavonoides, taninos e saponinas, de acordo com a literatura relatada para o gênero Eugenia sp., bem como apresentaram teores elevados destes compostos nas determinações quantitativas realizadas. Na avaliação de toxicidade aguda, não houve alterações nos perfis comportamentais, nas massas corporais e nas massas dos órgãos dos camundongos tratados com os extratos, presumindo-se que nenhum deles apresentou toxicidade aguda considerável. Os extratos das folhas apresentaram concentrações inibitórias mínimas de α-amilase e α-glicosidase bem melhores do que o fármaco de referência (acarbose) nos testes in vitro, sendo considerados alternativas potenciais no tratamento do diabetes mellitus. Nos testes in vivo, na dose de 200 mg/kg/mL, os extratos mostraram atividades significativas na diminuição dos níveis de glicose, frutosamina, hemoglobina glicada, aspartato aminotransferase, alanina aminotransferase, fosfatase alcalina e triglicerídeos nos ratos diabéticos, além de manterem os níveis de colesterol HDL dentro da normalidade e evitarem o aumento dos níveis de creatinina, colesterol total e partículas aterogênicas. No fígado e nos rins dos animais diabéticos, os extratos foram capazes de diminuir os níveis de malonaldeído, conferindo proteção à membrana celular, porém sem resultados significativos sobre as atividades do complexo NADPH oxidase e da mieloperoxidase. Os extratos proporcionaram o aumento das atividades de superóxido dismutase, glutationa peroxidase e catalase no fígado e nos rins dos animais diabéticos, favorecendo a proteção contra o dano oxidativo, quando comparados aos grupos não diabéticos. Os extratos apresentaram atividades na redução de Fe3+ e das espécies oxidativas totais no fígado e nos rins dos animais diabéticos. Especificadamente para a espécie E. sonderiana O. Berg, observou-se que o extrato apresentou uma maior variabilidade de metabólitos em sua composição, um maior conteúdo de compostos fenólicos e de flavonoides e efeitos mais significativos nos testes in vivo. Assim, o extrato das folhas de E. sonderiana foi considerado o mais promissor, tanto do ponto de vista fitoquímico quanto biológico, e que poderá ser utilizado futuramente como um insumo farmacêutico na produção de um fitoterápico.