Ainda que uma das características da Educação Física seja sua diversidade epistemológica, há um movimento de alargamento da biodinâmica de maneira desproporcional à sociocultural e pedagógica. Os impactos desse processo na formação de professores e os mecanismos que têm implicado esses efeitos ainda são questionáveis. Destarte, objetivou-se discutir o cenário epistêmico da Educação Física brasileira, com ênfase no Rio de Janeiro, a partir das representações sociais que são engendradas no âmago dos cursos de formação de professores de Educação Física e suas associações com as subáreas pedagógica, sociocultural e biodinâmica. Para tanto, empregou-se o estudo de campo a partir da participação de estudantes e docentes da graduação por meio da realização de testes e entrevistas respectivamente. Inicialmente, os resultados indicam que a desproporcionalidade entre as subáreas da Educação Física, com alargamento da biodinâmica, está presente no contexto da pós-graduação do Rio de Janeiro, mais especificamente no que tange ao número de docentes credenciados nos programas, áreas de concentração, linhas de pesquisa e possibilidades de publicação. No que tange as representações sociais dos acadêmicos sobre Educação Física, independentemente da modalidade do curso, licenciatura ou bacharelado, ou do período, ingressantes ou concluintes, foi observado que as representações sociais estão associadas à biodinâmica, subárea que compõe o Núcleo Central da estrutura representacional dos grupos participantes. Sobre a pesquisa com os professores dos cursos de formação de professores de Educação Física, percebeu-se que mais da metade dos docentes das três instituições participantes são da subárea biodinâmica e que as representações sociais que compartilham acerca da Educação Física estão ancoradas no modelo biomédico das biociências e sua objetivação em um modos operandi pautado em uma racionalidade técnica instrumental. Na busca das condições de possibilidade que têm implicado à disseminação de representações sociais que associam a Educação Física predominantemente à biodinâmica, na formação de professores inicial e continuada, o manuscrito defende cinco excertos que contribuem para a conformação de uma Educação Física biodinâmica, sendo eles: i) a chegada da racionalidade técnica instrumental na Educação Física pela via da Medicina; ii) a primeira pós-graduação que teve médicos como orientadores e a biodinâmica como primeira área de concentração; iii) o desmembramento da Educação Física em subáreas; iv) o sucesso da biodinâmica na batalha pelos objetos de disputa dentro do campo; v) a divisão do curso de formação de professores em duas modalidades e a fragmentação disciplinar do currículo como ressonâncias da instalação da racionalidade técnica instrumental. Portanto, a partir das investigações documentais, dos estudos sobre as representações sociais dos estudantes e professores, bem como das analíticas propostas, o texto defende a tese de que na medida em que a Educação Física em um contexto de busca por afirmação enquanto ciência é colonizada pela racionalidade técnica instrumental e que essa, por sua vez, tem em seu método o único percurso aceito socialmente para a produção dos enunciados de verdade, as representações sociais da Educação Física associadas às subáreas pedagógica e sociocultural tendem a ser deslegitimadas, inclusive pelos indivíduos do próprio grupo que buscam legitimação pela via biodinâmica.