A problemática envolvendo a lesbiandade na História está marcadamente vinculada à sua
violenta invisibilidade, essa característica provoca consequências sociais, políticas e
historiográficas. As discussões acerca da homossexualidade feminina, por ter bases
racistas, sexistas e classistas, são muito silenciadas, mas vale destacar que nunca
silenciosas. Deste modo, procuramos entender a trajetória do movimento lesbiano
brasileiro, utilizando a história do Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF 1981-1988), de
São Paulo, e as treze edições do Jornal e Boletim ChanacomChana (1981-1987), arquivo
fonte desta pesquisa. O periódico foi um espaço e agente de resistência, que questionava
a dominação sexista patriarcal, os padrões binários de feminino e masculino,
marcadamente heterossexuais, como também, criticava o movimento feminista branco e
heterossexista, além de ter discutido sobre saúde e sexualidade feminina e lesbiana. O
objetivo geral da nossa pesquisa é refletir como as lesbianas do GALF, ao assumirem-se
politicamente enquanto lésbicas, inscreveram em seus discursos, mapeados
principalmente pelo ChanacomChana, um significado de identidade lesbiana diferente da
visão estigmatizada que ligava essas identidades à crime ou doença. Além deste,
construímos três objetivos específicos, que articulados, guiaram nossa produção
dissertativa. São eles: Compreender o início do movimento lesbiano e feminista; Discutir
a relação entre o movimento feminista e homossexual com o movimento lesbiano,
pontuando os atritos e as semelhanças e; Problematizar acerca da sexualidade e saúde
lesbiana. Adotamos a metodologia da análise do discurso, a partir das reflexões de Michel
Foucault acerca do conceito de discurso, para a análise de todas as edições do
ChanacomChana, como também dos outros periódicos que foram utilizados. Para a
operacionalização da pesquisa, utilizamos diálogos teóricos e metodológicos fornecidos
por Stuart Hall (2006), Patrícia Lessa (2007), Tânia Navarro-Swain (2004), Monique
Wittig (1980; 2006), Adrienne Rich (2010), Michel Foucault (1996; 1978; 1987; 1999),
Kimberlé Crenshaw (2002), Audre Lorde (2020), dentre tantos outros autores e autoras
que serviram para embasar este trabalho.