Este trabalho partiu da necessidade de se investigar o que a Base Nacional Comum Curricular propõe enquanto ensino de Língua Portuguesa mediante o contexto em que nos deparamos com as práticas pedagógicas fundamentadas pelas teorias linguísticas que consideram à língua um fenômeno social, dinâmico, ideológico e dialógico e a formação de um sujeito crítico e autônomo mediante as práticas sociais da linguagem. Nesse contexto, se torna imprescindível a discussão em torno da formação desses sujeitos e as crenças, presentes nos documentos normativos que determinam o ensino de Língua Portuguesa nessa dinâmica da era das tecnologias da informação e da comunicação digitais. Nessa perspectiva, partimos da seguinte problematização: o que as crenças presentes no texto normativo da Base Nacional Comum Curricular revelam sobre a proposta de ensino de Língua Portuguesa para o Ensino Médio? Diante da questão-problema que direciona a nossa pesquisa, traçamos assim, o objetivo geral desta que consiste em: analisar as crenças presentes no texto normativo da Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio em relação ao ensino da língua portuguesa. Para tanto, nos valemos de um delineamento teórico que aborda o conceito de crenças e a relação entre estas e o ensino de línguas e outro que trate especificamente das concepções de língua, linguagem, sujeito e ensino. Para a primeira abordagem pontuamos as pesquisas de Araújo (2003); Barcelos (1995, 2001, 2004, 2006); Conceição (2009); Mariney (2009); Moran (2002); para a segunda discussão teórica, recorremos aos estudos de Antunes (2003); Bakhtin (2016); Freire (1992); Geraldi (1997); Koch (1992); Travaglia (1997); entre outros. Com isso, propomos uma pesquisa documental de caráter descritivo, explicativo e analítico já que temos como corpus de investigação um documento normativo que será analisado à luz das discussões teóricas pontuadas. Os resultados apontam crenças divergentes e crenças convergentes em relação aos postulados teóricos sobre o ensino de línguas. O documento mantém, em seu discurso, as concepções de linguagem e de subjetividade assumidas pelas teorias sociointeracionistas, além da proposta metodológica em relação às diversas práticas de linguagem em diferentes campos e atuação social. Por outro lado, há uma inadequação aos princípios de usos da língua assumidos na esfera discursiva do documento com o que propõe para a prática de sala de aula, a partir das habilidades, em relação ao trabalho com os gêneros textuais. Essa postura metodológica anula o pilar teórico da interação que constitui o próprio fenômeno da linguagem. Além disso, o caráter da natureza do documento é a uniformização do ensino nacional em toda a Educação Básica desconsiderando a diversidade geográfica, linguística, econômica, cultural e social do país. Todos esses pontos convergem para a mesma interpretação, a de que a uniformização do ensino atende a um projeto de educação neoliberal que tem como intenção educativa a orientação e preparação para as avaliações de larga escala, ainda que se justifique ideologicamente pelo princípio da igualdade social e regional.