Essa pesquisa analisa a construção de representações sobre as homossexualidades (masculina e feminina) e o (a) sujeito (a) homossexual em discursos médico-legais brasileiros da década de 1930, a partir de efeitos de sentido produzidos em enunciados de dois livros: A Inversão dos Sexos (1935) do médico da Bahia, Estácio de Lima e Homosexualismo e Endocrinologia (1938) do médico carioca Leonídio Ribeiro. As diferenças instituídas sobre os homossexuais e as lesbianas também foram aqui enfocadas, dadas as desigualdades presentes no tecido social do período e a intersecção dos marcadores de opressão, que em última instância tornaram algumas vidas mais inabitáveis e abjetas do que outras. Se um exagero interpretativo e certo terror moral conduziu os médicos a capturarem por toda a parte os indícios do “desvio”, a ficarem sempre alertas sobre a presença homossexual e o risco de contaminação, esse risco foi significado de forma mais negativa em sujeitas de performatividades de gênero incoerentes e consolidado nos “vagabundos” e criminosos negros. Entretanto, houve contestações, resistências e desobediências a todo momento. O nosso referencial teórico foi constituído pelos aportes da filosofia pós estruturalista, das epistemologias feministas (lesbo-feminismo e feminismo negro), da teoria queer e da historiografia da família, das mulheres, das desigualdades de raça, classe e trabalho. Como metodologia utilizamos os conceitos e premissas da análise de discurso (AD) de vertente francesa.