Esta dissertação tem por objetivo examinar como, no Brasil do tempo presente, o papel social ideologicamente atribuído às mulheres se relaciona com uma a crise sócio-reprodutiva nos quadros de um regime democrático-liberal cada vez mais blindado e da recente ascensão da extrema direita no país. Busco explicar a partir do aporte teórico metodológico da Teoria da Reprodução Social como a luta pela construção de um consenso reacionário de organização familiar está implicado na luta pelo ajuste fiscal no contexto da crise neoliberal. Diferentemente do que alardeiam os defensores da tese da “cortina de fumaça”, a verborragia reacionária do governo e proferidas por seus ministros e parlamentares no Congresso Nacional não podem ser vistas como manobras diversionistas, para pautas morais, culturais e comportamentais, de modo que a agenda econômica governamental possa ser efetivada sem muita contestação. A partir de uma perspectiva de totalidade, pensamos, do contrário, que o conteúdo ideologicamente moralista e, sobretudo, machista expresso nas declarações de expoentes do governo é parte constituinte e necessária de um projeto político que, visando à aplicação de uma plataforma ultraneoliberal, propõe uma reconfiguração regressiva das relações sociais no Brasil.