O objetivo da presente tese foi analisar as características das interações de materiais inteligentes quando aplicados em dentina, avaliando as técnicas de remoção, a recuperação e a restauração do tecido cariado. Para isso, foram realizados 6 estudos englobando os conceitos atuais da odontologia de mínima intervenção. O primeiro estudo consiste em uma revisão bibliométrica, que realizou um levantamento nas bases de dados MEDLINE, Scopus, Web of Science, Cochrane Library, Lilacs/BBO e Embase, evidenciando o potencial bioativo dos materiais estudados e a necessidade de testá-los em dentina totalmente ou parcialmente desmineralizada através de estudos laboratoriais. O segundo estudo visou comparar in vitro diferentes técnicas para remoção de cárie artificialmente produzidas: o uso de broca, cureta e dois agentes químico-mecânicos (Papacárie Duo Gel®, Fórmula e Ação e Brix3000®, Brix Medical Science). Para isso, foram realizados escaneamentos em micro-CT antes e após a remoção de cárie com o intuito de comparar o volume e a densidade mineral da dentina, demonstrando que não houve diferença entre as técnicas quanto a quantidade de tecido removido (p>0,05). Além disso, nesse mesmo estudo, foi avaliado o potencial de cimentos de polialquenoato (Poly Zinc®, Prevest DenPro e Ketac Molar®, 3M ESPE) na recuperação da densidade mineral da dentina remanescente, mostrando que o cimento de policarboxilato de zinco apresentou um desempenho melhor (33,6%) quando comparado ao cimento de ionômero de vidro (6%; p<0,01). Quanto à seletividade in vitro dos agentes químico-mecânicos à base de papaína, um terceiro estudo foi conduzido, testando as alterações na morfologia e rugosidade superficial da dentina hígida antes e após a aplicação dos géis, comprovando que esses géis são específicos e seguros, sendo que os valores da rugosidade superficial não apresentaram diferenças estatísticas (p>0,05). No quarto estudo foi avaliado in vitro a interação de materiais restauradores liberadores de íons aplicados sobre a dentina artificialmente cariada. Excetuando o compósito resinoso testado (Aura®, SDI), tanto o cimento de ionômero de vidro (Fuji IX®, GC) quanto os cimentos a base de silicato de cálcio (Endo-pass®, DEI e Theracal®, Bisco) provocaram precipitação mineral na interface com a dentina. Esses resultados foram confirmados através de análises quantitativas (α = 5%) e qualitativas. O quinto estudo analisou in vitro dois cimentos de ionômero de vidro modificados por resina (CIVMR; Ionolux®, VOCO e ACTIVA®, Pulpdent) quando aplicados sobre sistemas adesivos universais simplificados (Futurabond®, VOCO e Scotchbond®, 3M) com o objetivo de comparar a força de união a longo prazo desses materiais aplicados sobre dentina. Foi possível constatar que a composição dos sistemas adesivos influencia mais do que o protocolo de aplicação, seja a aplicação convencional ou autocondicionante. Entretanto, quando bem empregados, os CIVMR, podem melhorar a longevidade de adesão desses sistemas adesivos (p<0,05). O sexto estudo consiste em uma revisão de literatura narrativa que apresenta os materiais liberadores de íons disponíveis no mercado, seus mecanismos ação e suas indicações clínicas. Com isso, pode-se concluir que grande parte dos estudos sobre materiais bioativos ainda são limitados a experimentos in vitro e que, apesar de apresentarem resultados positivos quanto a sua bioatividade em recuperar densidade e promover precipitação mineral, esses resultados ainda não podem ser extrapolados clinicamente. Quanto as técnicas de remoção seletiva de cárie, talvez conhecer os conceitos biológicos, fisiológicos e químicos dos processos seja mais importante do que a técnica aplicada em si. Isso também serve no emprego dos materiais bioativos já disponíveis no mercado, que de acordo com a sua composição, a indicação clínica pode variar.