A BNCC, documento normativo e obrigatório, orienta o planejamento do ensino no Brasil. Nesses termos, o presente estudo objetiva investigar quais os obstáculos para a promoção da educação em saúde em uma perspectiva crítica interdisciplinar subsidiada pelas orientações da BNCC no âmbito de uma escola pública de ensino médio do interior do estado do RN. O método investigativo assenta-se em uma abordagem quali-quantitativa exploratório-descritiva em 3
etapas: (1) Levantamento Bibliográfico, com o intuito de conhecer como anda a produção acadêmica em nível de pós-graduação a respeito de como a BNCC aborda a saúde no âmbito do ensino médio; (2) Pesquisa Documental, que objetivou identificar as orientações curriculares constantes no documento as quais possam subsidiar o ensino de saúde em uma perspectiva crítica e interdisciplinar e (3) Entrevista Estruturada on-line assíncrona com docentes de uma escola pública de ensino médio do interior do Estado do Rio Grande do Norte, com o objetivo de entender os aspectos do ensino relacionado à saúde em uma perspectiva crítica e interdisciplinar. Na etapa 1, constatou-se uma ínfima produção acadêmica sobre esse tema, com pesquisas em nível de mestrado e abordagem predominantemente qualitativa valendo-se da
análise de conteúdo de Bardin. A pesquisa documental revelou um total de 28 conceitos de educação crítica nos textos das 183 habilidades desta etapa da educação básica, com a categoria “aluno como sujeito ativo” presente em todas elas. “Transmissão de conhecimento/instrumentalização”, “análise da realidade concreta”, “prática social” e
“criticidade” também apresentam-se em considerável número, porém, “autoconfiança/confiança”, “afetividade”, “criatividade” “inacabamento”, “libertação/emancipação”, “problematização”, “reflexão” e “solidariedade” estão entre os
menos frequentes. A área de Linguagens é a que contém o maior número de elementos relacionados à educação crítica (n=398), enquanto Matemática é a que menos contém elementos de educação crítica (n=105), apesar de possuir um número considerável de habilidades (n= 43). Foram encontrados 11 conceitos explícitos de saúde relacionados com aspectos referentes à proteção da saúde, além de 13 abordagens que implicitamente abarcam temas em saúde. A pesquisa de campo revelou os seguintes obstáculos à implementação de um ensino crítico e interdisciplinar de saúde: limitação do conhecimento teórico sobre temas em saúde pelos docentes, planejamento e engajamento coletivo, alinhamento entre o trabalho desenvolvido pelos docentes. A estes, somam-se: abordagem parcial da educação crítica, pela BNCC, notável
discrepância entre os elementos de educação crítica presentes em cada área do conhecimento, ausência de elementos considerados importantes para o desenvolvimento de um processo educativo crítico. Conjugam-se ainda desafios impostos pela BNCC ao trabalho docente em sua respectiva área do conhecimento, a saber: desafios relacionados ao ensino em favor da formação integral do aluno, desafios relacionados à adequação do PPP da instituição escolar às imposições curriculares da BNCC, desafios de contextualização dos direitos de aprendizagem. Com base na ideia de currículo como práxis, mesmo com as limitações apresentadas, é possível transcender para além do que o texto da base impõe e, dessa forma, agregar ao ensino mais elementos de educação crítica além daqueles encontrados em cada habilidade trabalhada.