A crescente urbanização do litoral tem causado, com frequência diversos impactos
provenientes do descarte de resíduos sólidos, poluentes domésticos e industriais, culminando
no desequilíbrio dos ecossistemas lagunares e prejudicando atividades importantes como à
pesca artesanal e o turismo local. O Sistema lagunar Maricá-Guarapina, localizado no
município de Maricá (RJ), vem apresentando problemas relacionados à poluição devido à
ocupação de suas áreas marginais nas últimas décadas. Diante do exposto, o conhecimento
sobre a poluição por resíduos sólidos neste ambiente, assim como, os processos responsáveis
pela origem e distribuição destes materiais, são de grande relevância para a análise da
qualidade ambiental dessas lagunas. Estudos dessa natureza permitem identificar os impactos
causados pelas atividades desenvolvidas no entorno desse ambiente e o estado de poluição por
resíduos sólidos no sistema lagunar. Este estudo objetivou estabelecer um diagnóstico acerca
da poluição por resíduos sólidos nas Lagoas de Maricá e Guarapina utilizando os
microplásticos como indicador. Foram realizados trabalhos de campo para a coleta de 16
amostras de água na superfície, 16 amostras de sedimentos de fundo e 13 de margem lagunar,
para a extração e classificação de microplásticos. Os procedimentos laboratoriais incluem a
pesagem das amostras secas, peneiramento, extração de microplásticos através do método de
separação por densidade e identificação dos microplásticos encontrados com o auxílio de uma
lupa binocular. Os resultados permitiram identificar a presença de 5.339 microplásticos nas
lagunas estudadas, com as maiores concentrações na margem lagunar (40,4%), seguida pela
superfície da água (39%) e nos sedimentos de fundo (20,60%). Esse valor representa uma
média de 165,92 MPs/kg–1para sedimentos de margem, 68,75 MPs/kg–1 para os sedimentos de
fundo e 11,93 MPs/m–3 para a água superficial. Os tipos de microplásticos identificados
foram: fragmentos (36,09%), fibras (29,96%), filmes (26,72%), pellets (4,46%), espumas
(2,29%) e isopor (0,48%). Um total de 98,89% dos microplásticos analisados aparentavam
uma superfície desgastada, indicando atrito ou deterioração pela ação dos processos
intempéricos. Entre as cores do material analisado predominou o azul para fragmentos
(34,22%), fibras (26,83%) e filmes (52,52%), bronze para pellets (29,41%), e branco para
espumas (36,07%) e isopor (96,43%). As possíveis fontes de microplásticos para as lagunas
de Maricá e Guarapina podem estar relacionadas com o processo de expansão urbana, as
atividades de lazer e turismo, com expressiva contribuição dos rios, do escoamento superficial
urbano e do mar. Por ser uma laguna do tipo confinada e de baixa troca com o mar, o tempo
de permanência de materiais em disponibilidade na superfície d’água é maior na laguna de
Maricá. Em Guarapina, o Canal de Ponta Negra permite a troca constante de água entre o a
laguna e o mar, o que favorece também a remobilização de microplásticos para foram deste
ambiente. Por outro lado, a entrada de água através do canal possibilita a entrada de
microplásticos na laguna, principalmente durante eventos de tempestade, como constatado
neste estudo.