Este trabalho se propõe a analisar a gênese das chuvas, sua distribuição espacial e os
impactos das inundações ao longo dos municípios de São Gonçalo e Niterói-RJ entre os anos
de 2005-2018. Os procedimentos metodológicos se basearam em quatro etapas. Na primeira,
estabeleceu-se a série histórica 2005 a 2018 e buscou-se por pluviômetros próximos que
contemplassem a mesma série histórica. Os dados observados desses pluviômetros foram
utilizados para avaliar estatisticamente as estimativas mensais do produto CHIRPS V2.0
(FUNK et al. 2015) e assim poder espacializar as chuvas. A avaliação foi feita através do
coeficiente de correlação de Pearson (R), do coeficiente de determinação (r²), pela Raiz do erro
médio quadrático (RMSE) e pelo BIAS. Em seguida, foram estabelecidos os anos padrão de
análise pela técnica dos desvios percentuais de Tavares (1976). A partir daí (etapa 3), foi feita
a análise rítmica dos tipos de tempo daqueles anos classificados como seco, habitual e chuvoso.
Para entender a distribuição espacial das chuvas, etapa quatro, utilizou-se do método
geoestatístico Krigagem ordinária. E por fim, foram elaborados mapas das áreas de risco natural
de inundações pela técnica de Alves (2006; 2007) e mapas dos bairros mais drasticamente
impactados. Os resultados revelam uma boa performance do produto CHIRPS na estimativa
das chuvas. Na comparação com os pluviômetros, três dos cinco pluviômetros utilizados
apresentaram R acima de 0,80 e r² acima de 0,64. O BIAS mostrou uma baixa superestimava
do CHIRPS estando abaixo dos 20% em quatro dos cinco pluviômetros considerados. O RMSE
também indicou baixos erros nas estimativas do satélite, variando em sua maioria na casa dos
30 mm. A classificação dos anos padrão indicou o ano de 2012 como habitual (-3,7%), 2014
como seco (-141,1%) e 2010 como chuvoso (+ 169,2%). De modo geral, as chuvas se
concentram mais no Setor Norte-Nordeste de Niterói em direção ao Sul-Sudeste de São
Gonçalo onde o relevo tem maior influência. A análise rítmica revelou que enquanto no ano
habitual se observou verão chuvoso bastante influenciado pela ZCAS, avanço das influências
anticiclônicas no outono, predomínio da mTa e mPa no inverno e retorno das influências
convectivas da mEc entre novembro e dezembro. No ano seco, por outro lado, a participação
dos sistemas de alta pressão, em especial a influência do ASAS através da mTa, predominou
não somente no outono e inverno, como em todo o verão e primavera, ocasionando baixos
acumulados mensais e predomínio de tempo estável, o oposto do que foi observado no ano
chuvoso. Neste, o verão foi bastante úmido, com forte participação convectiva, outono e
inverno semelhantes ao observado no ano habitual, e novamente, retomada das influências de
baixa pressão e redução na participação da mTa durante a primavera. A espacialização dos
impactos indicou que mais de 62,4% dos transtornos ocorrem entre janeiro e março e que em
ambos os municípios se percebe a predominância das ocorrências de inundação nos bairros
adjacentes ao centro da cidade, onde os solos sofrem com impermeabilização e a dinâmica dos
rios e riachos já foi completamente alterada.