Avaliaram-se consequências da perda precoce de dentes decíduos anteriores por meio de três fases. Na 1a
, realizou-se levantamento da evidência científica disponível por meio de revisão sistemática e meta-análise (RS), revisão crítica da literatura (RC) e e-book. A RS foi dividida em seleção dos artigos, extração de dados, risco de viés, meta-análise e certeza da evidência; na RC, realizou-se compilação dos dados e análise crítica. Por fim, as informações foram organizadas em e-book com fins educativos. Na 2a, realizaram-se dois estudos (Es) de concordância e reprodutibilidade, para avaliar instrumentos em modelos de estudo (Es1) e na clínica (Es2). No Es1, dois avaliadores treinados e calibrados realizaram mensurações diretamente com paquímetro digital e compasso de pontas secas em 40 modelos de gesso de bebês/crianças com idade entre 1 e 5 anos, com e sem perdas dentárias, comparados à medidas digitais feitas em software pós escaneamento 3D. Foram avaliadas 6 medidas dentárias lineares (MDL): espaço mésio-distal da perda dentária (EPD) (se houvesse), perímetro do arco, comprimento do arco, largura do arco, comprimento intercaninos e largura intercaninos. O Es2 comparou paquímetro digital e compasso de pontas secas para mensuração clínica do EPD realizada por dois operadores independentes em 15
bebês/crianças com idade entre 2 a 6 anos. Na 3a, estudo longitudinal de coorte avaliou consequências da perda precoce anterior nos arcos dentários e no desenvolvimento da oclusão de outros 15 bebês/crianças de 1 a 5 anos comparados à bebês/crianças sem perdas dentárias após 24 meses de acompanhamento. Foram realizados exame de oclusão, mensuração clínica do EPD com paquímetro digital e documentação com fotografias intrabucais e confecção de modelos de estudo pela impressão dos arcos. Essas etapas foram realizadas no tempo zero (T0) e repetidas após 24 meses (T1). Os modelos foram escaneados em scanner ótico 3D e realizaram-se MDL em software digital. As medidas digitais foram repetidas após 1 mês para avaliação do erro do método. A análise estatística de cada fase foi desenvolvida individualmente utilizando: coeficiente de correlação intraclasse (CCI), Bland-Altman, teste-t, Shapiro-Wilk e teste de Levene’s, adotando nível de significância de 0,05%. Dos estudos selecionados na meta-análise (n=4), verificouse que crianças que perderam dentes decíduos anteriores apresentaram maior chance de sofrer distorção da fala do que crianças sem perdas com baixa certeza de evidência (OR 5,466 [1,689, 17,692] p=0,005). Por outro lado, não houve diferença estatística entre esta perda e omissão ou substituição de fonemas, ambos com muito baixa certeza de evidência. Com relação ao Es1, o CCI inter-examinador foi considerado excelente variando de 0,93 a 1,00 e a concordância entre os instrumentos foi boa com média da diferença variando de -0,034mm (-1,077; 1,145) a -1,002mm (-2,632; 0,627). No Es2, o CCI inter-examinador também foi excelente com valor médio de 0,99 e houve concordância entre os instrumentos. No estudo de coorte, não houve diferença clínica significativa no EPD (p=0,938). Valores CCI intra-examinador foram variaram de 0,73 a 1,00. A precisão do método foi adequada, sem evidência de viés de proporção. Não houve diferenças estatisticamente significativas nas MDL tanto do grupo exposto quanto do não-exposto (p>0,05). Alterações nos arcos dentários e no desenvolvimento da oclusão puderam ser evidenciadas por meio da análise descritiva, incluindo: esfoliação e erupção de dentes decíduos, erupção de dentes permanentes, autocorreção e estabelecimento de maloclusões, entre outros. A presente tese concluiu que a perda precoce anterior pode causar distorção da fala, com baixa certeza de evidência. Demonstrou que MDL podem ser realizadas com boa concordância e reprodutibilidade em modelos de gesso com paquímetro digital e compasso de pontas secas e em modelos digitais com software. Demonstrou que, paquímetro digital e compasso de pontas secas podem ser utilizados com boa concordância e reprodutibilidade para mensuração clínica do EPD. Por fim, não houve diferenças nos arcos dentários e no desenvolvimento da oclusão de bebês/crianças com perda precoce anterior em comparação aos sem perdas. Entretanto, alterações fisiológicas e patológicas foram diagnosticadas clinicamente em ambos os grupos, destacando a importância da análise clínica e
qualitativa.