O presente estudo objetiva analisar a percepção social de psicólogos clínicos sobre o atendimento on-line em Gestalt-terapia. A partir do crescimento de práticas psicológicas mediadas por tecnologias em virtude do distanciamento social evocado pela pandemia de Covid- 19, muitas realidades foram afetadas e pensando no contexto profissional, inclusive a relação terapeuta-cliente, houve a necessidade imediata de transição dos atendimentos psicológicos da modalidade presencial para a remota. Realizou-se estudo qualitativo e exploratório, utilizando- se um roteiro de entrevistas com 7 psicólogos clínicos, gestalt-terapeutas, que iniciaram os atendimentos on-line no período da pandemia. A sistematização e interpretação dos dados foram realizadas por meio da análise de conteúdo definida por Bardin. Os psicólogos clínicos relataram diferentes percepções em relação ao manejo de técnicas, à construção do vínculo com o cliente na clínica gestáltica, apontando potencialidades e desafios para o terapeuta quanto à manutenção da prática on-line nos dias atuais. Os resultados apontam para a necessidade de adaptação do terapeuta e do cliente frente às tecnologias para a prática do atendimento on-line; o interesse em manter a exclusividade da prática clínica virtual, enfatizando a qualidade de vida e a liberdade para o terapeuta como potencialidades e benefícios dessa prática. Os terapeutas destacam que é possível desenvolver técnicas/experimentos e manter o vínculo com o cliente no setting virtual mesmo com a ausência do contato pelo “toque” que pode ser expressado na clínica presencial. Em contrapartida, denunciam que o atendimento on-line tem restrições e não é viável para atender demandas de violências e de dependências tecnológicas, tampouco para o acolhimento de situações clínicas como a depressão profunda. Os dados revelam ainda a importância do autocuidado dos psicólogos para os limites e horários que disponibilizam nessa prática e do sentimento de solidão que podem experienciar, além do convite para estarem atentos ao cenário que abrange o mundo virtual, às mudanças tecnológicas e questão ética e sigilosa na relação terapêutica, considerando a presença da inteligência artificial nos tempos atuais.