O Telemonitoramento (TL) foi uma ferramenta importante para o enfrentamento da COVID-19 no serviço público de saúde no Brasil, Sistema Único de Saúde (SUS), na busca da manutenção da saúde das pessoas, especialmente aquelas que apresentam doenças crônicas não transmissíveis. A Atenção Primária em Saúde (APS), inicialmente, utilizou o TL para o rastreamento da COVID-19, bem como, organizou o serviço de saúde para lidar com a situação de urgência que se estabeleceu no país. A concepção da Estratégia da Saúde da Família (ESF), através da atuação dos agentes comunitários como parte integrante da Equipe de saúde foi um fator essencial para articular o cuidado em saúde para a população. Desta forma, através do TL, na logística da ESF, foi possível monitorar várias doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes mellitus e hipertensão arterial. O objetivo principal deste estudo foi descrever a experiência do cuidado em saúde por meio do TL em uma Clínica da Saúde da Família (CSF-SUS), e gerar informações sobre o papel do TL no acompanhamento de doenças crônicas não transmissíveis e sua relação com a saúde bucal na pandemia de COVID-19. Trata-se de um estudo observacional transversal, no formato de relato de experiência, que foi realizado a partir da análise do banco de dados do TL de uma CSF, na área programática 3.1 no Município do Rio de Janeiro, no período de março de 2020 até outubro de 2021. Essa análise envolveu a identificação de usuários com e sem comorbidades, e levantamento das condições periodontais numa amostra de usuários deste serviço. Os exames clínicos periodontais de boca inteira foram realizados, no período de setembro de 2022 até maio de 2023, incluindo: índice de placa visível, fatores retentivos de placa, sangramento gengival, profundidade de sondagem, nível clínico de inserção, sangramento à sondagem, envolvimento de furca e mobilidade dentária. Dados sobre o autocuidado com a saúde bucal e a percepção da qualidade de saúde, utilizando o instrumento OHIP-14 também foram coletados. Um total de 335 usuários foram cadastrados pelo TL. Destes 40,90% apresentavam comorbidade (n=137), e 59,10% sem comorbidades (n=198), numa população com média de idade de 39,75 anos ± 20,48. Nessa população 64,48% (n=216) eram do sexo feminino. Dentre as condições sistêmicas da população estudada (n=335), a hipertensão arterial sistêmica foi a doença de base mais prevalente (26,87%), seguida de diabetes mellitus (11,34%). Considerando uma amostra (n=40) de usuários que foram clinicamente examinados, a média de idade do grupo com comorbidades foi de 47,92 ±14,55 em comparação com 34,13 ±11,23 sem comorbidades (p˂0,002). Não houve diferença estatística entre sexo e escolaridade entre os grupos. Dentro da amostra com
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comorbidade (n=25), a condição mais presente foi a hipertensão arterial sistêmica (60%) seguido do tabagismo (24%) e diabetes mellitus (20%). Nos pacientes examinados, 7,5% apresentavam edentulismo, 10% saúde periodontal, em periodonto reduzido ou não, 25% gengivite, em periodonto reduzido ou não, e 57,5% periodontite. Sendo todos os pacientes edêntulos pertencentes ao grupo com comorbidades. Os pacientes com comorbidade apresentaram índice de placa visível significativamente maior do que os pacientes sem comorbidade (p<0,001), um número maior de sítios com bolsas profundas (p<0,001) e maiores níveis clínicos de inserção (p<0,001) comparados com a população sem comorbidade e apresentaram mais elementos com mobilidade e maiores graus de mobilidade do que os pacientes sem comorbidade (p=0,002), um número maior de restos radiculares (p=0,006) e somente os pacientes com comorbidade apresentaram lesões de furca. Os pacientes sem comorbidade apresentaram maiores índices de sangramento gengival (p<0,001) e sangramento a sondagem (p=0,005) comparados com os pacientes com comorbidade. A maioria dos pacientes (75%) relatou escovar os dentes de 2-3 vezes ao dia e 65% relatou fazer uso do fio dental. Os resultados do OHIP-14 não apresentaram significância estatística comparando os grupos com e sem comorbidades, porém os pacientes com comorbidade apresentaram respostas mais altas do que os sem. Os pacientes com comorbidade relataram que tomaram mais doses da vacina para COVID-19 do que os pacientes sem comorbidade, apresentando significância estatística. (p=0,047). Conclui-se que o TL contribuiu para a identificação de grupos prioritários e para aprimorar o cuidado em saúde de usuários com comorbidades e doença periodontal. A experiência do cuidado em saúde por meio do TL, em uma amostra de usuários da Clínica da Saúde da Família Felippe Cardoso (CSFFC) no SUS, demonstrou que o TL tem um potencial de ser uma ferramenta no acompanhamento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e sua relação com a saúde bucal mesmo após a pandemia de COVID-19. Concluiu-se também que a ausência dentária e piores índices periodontais estão associados a pacientes com DCNT numa amostra de usuários do SUS.