As intervenções humanas no litoral afetaram a dinâmica e a evolução costeira no
mundo. No litoral de Maricá, no Estado do Rio de Janeiro, a expansão urbana intensificou-se
a partir da construção da ponte Rio-Niterói em 1974, com um aumento expressivo no número
de residências e do turismo na região. Essa ocupação, no geral, merece uma atenção especial
em função da elevada dinâmica deste litoral, sujeito à ocorrência de eventos de alta energia
associados à incidência de ondas de tempestades. Esses eventos têm, historicamente, causado
danos às construções e demais estruturas urbanas, inundações e comprometido o equilíbrio
dos sistemas ambientais costeiros. Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo
analisar a dinâmica morfológica e sedimentar das praias do município de Maricá nas últimas
décadas, em resposta aos eventos associados à incidência de ondas de tempestades. Para tal,
foram adquiridos 35 novos perfis topográficos de praia ao longo do ano de 2022. Esses dados
foram posteriormente integrados com resultados de estudos realizados nas últimas décadas
por diversos autores. Foi realizado também o cálculo do volume emerso de sedimentos, a
análise de geoindicadores e diversos registros fotográficos. Para tal, foram selecionadas as
praias de Itaipuaçu, APA e Barra de Maricá, Cordeirinho e Ponta Negra. Os resultados
mostram uma elevada variabilidade topográfica da praia, com destaque para o setor oeste de
Itaipuaçu, com uma variação de 45 m na largura entre a máxima e a mínima. O cálculo do
volume de sedimentos emersos mostra que os setores da praia apresentam um equilíbrio
sedimentar, exceto a praia de Barra de Maricá e Ponta Negra (P8) que apresentaram uma
redução no volume (42,75% e 31,54% respectivamente) nas últimas décadas. As praias de
Itaipuaçu e Barra de Maricá foram as que mais receberam intervenções em detrimentos das
outras e são, consequentemente, as áreas que apresentaram uma alta susceptibilidade a erosão
costeira. Os problemas detectados na praia da Barra de Maricá e de Ponta Negra (destruição
da estrada e de residências, respectivamente), preocupam e alertam para a ocorrência de
processos erosivos neste trecho do litoral. A variabilidade morfossedimentar observada resulta
das rápidas mudanças na energia das ondas que incidem no litoral, principalmente quando
associadas a condições de tempestade. Além da elevada dinâmica, resultante da exposição
direta a essas ondas de tempestade, no litoral de Maricá deve-se atentar para à proximidade
das estruturas urbanas em relação à faixa de areia dinâmica da praia, o que só não ocorre no
trecho correspondente à APA de Maricá. Sendo assim, por se tratar de um litoral dinâmico,
com alto grau de suscetibilidade à incidência de grandes ondas de tempestades ao longo de
todo arco praial e erosão nos locais com redução no volume sedimentar, é fundamental que se
adote medidas a fim de proteger a costa e mitigar os impactos das construções próximas e/ou
dentro das praias, através de soluções baseadas na natureza ou até mesmo a partir da retirada
dessas estruturas rígidas. Diante do exposto, faz-se necessário monitorar de forma contínua
esse litoral e os problemas existentes, devido a elevada suscetibilidade do mesmo à erosão
costeira.