A presente tese foi dividida em quatro artigos. No primeiro artigo, realizou-se uma revisão sistemática, cujo objetivo foi avaliar o impacto da higiene oral (HO) com clorexidina (CHX) na prevenção de infecção nosocomial (IN). Inicialmente foi feito uma busca criteriosa nas principais bases eletrônicas e foram selecionados 13 ensaios clínicos randomizados que apresentavam um grupo tratado com CHX e um grupo controle (tratado com placebo ou escovação dentária) em pacientes hospitalizados. Após a extração de dados a qualidade metodológica e o risco de viés foram avaliados utilizando o “Risk of Bias 2.0″. A análise quantitativa comparou o grupo controle e o
grupo de intervenção em relação a infecção nosocomial, pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV) e infecção por S. aureus. Além disso, foi avaliado a concentração, a frequência e a forma de apresentação da CHX, o profissional responsável e o tempo de hospitalização. Neste estudo, foi possível concluir que a CHX reduziu a IN independentemente da concentração, quando utilizada 3×/dia ou mais. No entanto, não teve efeito contra S. aureus e não reduziu o tempo de internação. O segundo artigo baseou-se em uma revisão bibliométrica que buscou protocolos de HO nos websites das associações internacionais de terapia intensiva e comparou suas recomendações. Foram identificadas 85 associações pelo website da Federação Mundial de Cuidados Intensivos e Críticos e 34 foram selecionadas de acordo com os idiomas português, inglês e espanhol. Uma busca avançada foi realizada no site de cada associação utilizando a ferramenta de busca Google (Google LLC, Mountain View, CA, EUA), utilizando os termos de buscas previamente estabelecidos. Além disso, foi realizada uma busca manual nos sites de cada associação e nas páginas de Facebook. Ao final, foram encontrados apenas 8 protocolos que foram examinados e comparados. Os dados foram importados para o software SPSS™ (versão 24.0, EUA) e as frequências absolutas das variáveis cadastradas foram analisadas por meio de estatística descritiva. Foram também calculados os valores de dissimilaridade (distâncias euclidianas; ED). Dessa forma foi possível observar que poucas associações internacionais de terapia intensiva possuem algum tipo de diretriz disponível on-line e, aquelas que possuem, demonstram que não há consenso sobre o protocolo ideal, principalmente no que diz respeito à frequência e concentração da clorexidina. Diante disso, após os resultados encontrados e através da análise da literatura, foi proposto um consenso sobre a higiene bucal dos pacientes internados em UTI. O terceiro artigo, avaliou a efetividade de um vídeo educativo sobre HO, no conhecimento de uma equipe de enfermagem atuante em UTI. O estudo foi dividido em três etapas (1): Aplicação de um questionário inicial para obtenção de dados pessoais e dados sobre a técnica de HO em UTI. (2): Elaboração de um vídeo sobre a HO em pacientes de UTI, baseado nas recomendações da AMIB (Associação de Medicina Intensiva Brasileira) e envio do vídeo para os participantes. (3) Questionário final para avaliar se o vídeo foi esclarecedor e se auxiliou positivamente os profissionais. Os questionários foram desenvolvidos na plataforma do Google Forms®. e enviados via WhatsApp e o vídeo foi produzido na plataforma Powtoon. Foram realizadas análises observacionais e descritivas. O vídeo contribuiu positivamente no conhecimento dos profissionais e a sua eficácia foi comprovada pela aceitabilidade dos participantes e pela agilidade na divulgação de informações importantes através da internet. O quarto artigo, teve como objetivo avaliar a condição bucal e determinar a presença de espécies bacterianas e Candida sp. na cavidade oral, que podem estar relacionadas com infecção nosocomial em crianças internadas em UTI e enfermaria de um hospital
pediátrico público do Rio de Janeiro. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa e a participação foi voluntária. Os pacientes selecionados foram divididos em três grupos. Pacientes de ambulatório (grupo I-controle), pacientes de enfermaria (grupo II) e pacientes de UTI (grupo III). Os critérios de inclusão foram: idade entre 0 e 12 anos e tempo mínimo de internação de 48 horas para os grupos II e III. Foram excluídas crianças que apresentavam quadro clínico muito grave. Os dados dos pacientes foram obtidos nos prontuários e exames extra e intrabucais foram realizados por um único examinador. Além disso, foram avaliados o índice de biofilme e a presença de necessidades dentárias. Amostras clínicas (esfregaço de mucosa) foram coletadas de todos os pacientes e posteriormente analisadas em laboratório. O DNA de bactérias e fungo foi extraído e em seguida foi realizado o PCR. Foi possível concluir que a maioria das crianças do grupo II e III apresentaram um biofilme fino, entretanto, a higiene bucal não era realizada de forma frequente nesses grupos. E que as crianças de UTI apresentaram uma menor necessidade odontológica em comparação com os grupos I e II. Mas em contrapartida, no grupo III foi identificado a presença de Enterococccus faecalis e Candida albicans. S. aureus não foi identificado em nenhum dos grupos. Diante dos estudos realizados, é possível observar que embora a higiene bucal em ambiente hospitalar, principalmente em Unidades de Terapia Intensiva, seja extremamente necessária para evitar infecções nosocomiais, ela nem sempre é realizada de forma correta ou de acordo com algum protocolo específico. No entanto, estabelecer um protocolo é um desafio, então, sugere-se que novos estudos sejam desenvolvidos para amenizar diferenças de protocolos, facilitar a análise, desenvolvimento e implementação de um protocolo universal. Além disso, destaca-se a importância do cirurgião dentista como membro da equipe multidisciplinar dentro das UTI. A fim de promover cuidados com a saúde bucal dos pacientes, orientar e supervisionar a equipe de enfermagem e, consequentemente, reduzir os riscos de infecção, o tempo de internação e os custos com tratamentos de saúde.