O presente trabalho explora os processos de interações sociais entre as ciganas e ciganos de etnia Calon com a população não cigana (gadjé, gajon ou juron) em Estreito Maranhão. O mesmo se insere como uma pesquisa realizada para a dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGS/UFGD). Em vista disso, buscamos compreender mecanismos de poder e resistências no cotidiano das comunidades ciganas localizadas em bairros específicos do município de Estreito/MA, considerando o estigma nas interações sociais entre os Calon e os citadinos não ciganos. Para tanto, utilizamos como categoria analítica o conceito de Estigma Social de Erving Goffman (2004), em diálogo com as proposições teóricas importantes para pensar concepções acerca da identidade, decolonialidade e diferença. Partindo desses pressupostos, a pesquisa se configura como qualitativa, que recorre à etnografia e às técnicas etnográficas, tais como: observação direta, conversas e entrevistas com aplicação de questionários com perguntas semiestruturadas. Com a pesquisa foi possível observar que os ciganos e ciganas Calon ainda enfrentam muitas dificuldades nas interações sociais com pessoas não ciganas, pois lutam cotidianamente por aceitação e muitas ainda vivem em condições de invisibilidade e vulnerabilidade socioeconômica, sendo, portanto, as mulheres ciganas as pessoas que mais enfrentam tais violências, por serem as guardiãs dos saberes ancestrais e de muitas normas e regras estabelecidas pelo grupo. Outrossim, o fato de estarem em condições de invisibilidade e exclusão social não impossibilita que essas pessoas busquem diferentes formas de resistência em função da sobrevivência do grupo, e a existência dos ciganos e ciganas em solo brasileiro e maranhense é um forte indicativo de resistência. A ênfase se deu na contextualização macro e na microssociológica que se fez, ora com resgates históricos dos flagelos suportados pelos ciganos (de modo geral no “mundo” e específico no Brasil/Maranhão), ora com pinçares das interlocuções havidas com a pesquisadora.