A Doença Hepática Gordurosa não alcoólica (DHGNA) é caracterizada por presença de inflamação crônica. Recentemente, alguns estudos sugeriram que a periodontite tem efeitos na fisiopatologia da DHGNA que é caracterizada pela presença de gordura no fígado na ausência de histórico de consumo de álcool, infecções virais ou doenças autoimunes. Este estudo tem como objetivo avaliar as condições bucais de pacientes de um serviço público de Hepatologia, além de verificar se existe associação entre essas condições bucais, tais com cárie dentária e doença periodontal com o estado inflamatório dos pacientes, características antropométricas e
grau de comprometimento hepático de pacientes com DGHNA. Nesse estudo transversal os pacientes com DHGNA foram divididos em dois grupos de acordo com grau de rigidez hepática (LSM) obtido através da elastografia hepática transitória. O GRUPO 1 incluiu pacientes LSM ≤ 7,9 kPa e GRUPO 2 incluiu pacientes com LSM >7,9. Foi realizado avaliação do índice CPOD e de parâmetros periodontais em boca toda. Amostras de sangue foram coletadas para
avaliação de enzimas hepáticas, glicemia, PCR e mediadores inflamatórios. Dados como idade, gênero, nível socioeconômico e avaliação de bioimpedância também foram coletados. A população total do estudo foi de 58 pacientes usuários do serviço. Destes, 26 indivíduos apresentavam menos de 10 dentes ou eram edêntulos (n=26) e 32 foram submetidos à exame periodontal completo e à avaliação dos mediadores inflamatórios e avaliação hepática. Dos 32 indivíduos submetidos à avaliação odontológica completa e exames laboratoriais, 72% do total
era do sexo feminino sendo 76% do GRUPO 1 e 67% no GRUPO 2 (p=0,70). A média de idade da população total foi de 59,72 anos (DP ± 8,83), a Síndrome Metabólica (SM) esteve presente em 96,88% de toda a amostra. No que se refere a avaliação antropométrica da população estudada, o valor de IMC do GRUPO 1 foi de 31,5 (± 5,4) e no GRUPO 2 foi de 34,0 (± 7,1), sem diferenças significativas entre os grupos. Os resultados referentes a avaliação do estado
inflamatório dos pacientes não evidenciaram diferenças significativas entre os grupos na avaliação de citocinas inflamatórias. Em relação ao CPOD encontrado, o GRUPO 1 apresentou um valor médio de 18,1 (±4,5), enquanto o GRUPO 2 apresentou 16,8 (±5,0), não havendo diferenças significativas entre os grupos, porém o GRUPO 2 apresentou maior quantidade de dentes perdidos (p=0,05). Quanto ao diagnóstico de doenças periodontais, de toda a amostra apenas 9,4% apresentavam o diagnóstico de saúde periodontal. No que diz a respeito à análise parâmetros periodontais, os pacientes com maior comprometimento hepático apresentaram maiores índice de placa visível (p=0,001), de presença de cálculo (p=0,046), e sangramento a sondagem (p<0,001). Em relação ao nível clínico de inserção (NCI), sendo o GRUPO 2 com pior NCI (p<0,001). Este estudo não conseguiu apresentar uma associação estatisticamente significativa entre cárie, doenças periodontais, perfil inflamatório e grau de comprometimento
hepático de pacientes com DHGNA, devido ao conjunto limitado de dados. Podemos verificar uma deficiência na saúde bucal o que aponta para a necessidade de uma abordagem interprofissional em pacientes com doença crônica.