Esta pesquisa investiga a constituição da identidade de professores/as de língua portuguesa em
escolas que atendem estudantes de territórios campesinos do município de Alegre/ES. Ela está
vinculada à linha de pesquisa Docência, Currículo e Processos Culturais do Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo e desenvolvida no grupo
de pesquisa Culturas, Parcerias e Educação do Campo. O estudo problematiza como os
professores de língua portuguesa constroem suas identidades docentes, levando em conta as
políticas educacionais atuais, a realidade das escolas da rede estadual e as particularidades dos
contextos campesinos. Os processos investigativos se orientam pela abordagem da pesquisa
qualitativa em educação (Lüdke; André, 1986; Fichtner et al., 2020; Brandão, Foerste e Gerke,
2023), tendo como metodologia a história oral de vida (Meihy; Seawright, 2021; Portelli, 2016),
considerando-se o caráter pessoal, subjetivo e profissional da docência. Este estudo analisa as
histórias de vida dos professores (Huberman, 2013) e a constituição da identidade profissional
docente (Dubar, 1997, 2009; Nóvoa, 2013, 2023; Tardif, 2014), no âmbito da Educação do
Campo e da formação de seus profissionais (Arroyo, 2007, 2008, 2012, 2015, 2018, 2019). Para
fundamentação teórica, buscou-se o diálogo com os conceitos de narrativas, memórias e
experiência de Benjamin (1994) e Bosi (2023) e as concepções formativas e identidades
docentes, baseando-se em Freire (1967, 2001 [1968] 2023, [1996] 2024) e Nóvoa (2013, 2017,
2023). Os resultados mostraram que as experiências pessoais dos docentes, como dificuldades
socioeconômicas na infância, inspirações de figuras como mães e professores, e a migração do
campo para a cidade em busca de melhores condições, têm um impacto significativo na
formação da identidade pessoal e profissional dos/as docentes. Os/as professores/as indicaram
que sentiram falta de aprofundamento em conteúdos específicos, metodologias de ensino e
estágios na formação inicial, enquanto a formação continuada foi criticada por ser
autoinstrutiva, online e desconectada da realidade da sala de aula. A socialização profissional
ao longo da carreira preencheu espaços deixados pela formação inicial e o apoio e acolhimento
no início da carreira foram fundamentais, pois, sua ausência deixou marcas negativas. Os
desafios docentes incluíram a falta de formação específica para lidar com estudantes
campesinos, uso de celular durante as aulas, abundância de informação e superficialidade de
conhecimento profundo dos estudantes, currículos padronizados e foco em competências e
resultados, e o conhecimento superficial em Educação do Campo, evidenciaram a necessidade
urgente de implementação de políticas públicas educacionais em formação docente para atender
os estudantes campesinos. A sobrecarga emocional, a falta de reconhecimento e as
preocupações administrativas como o foco em proficiência mostraram desinvestimento na
carreira, entretanto, o comprometimento e a alegria de ensinar prevalecem apesar dos desafios
e dificuldades. Conclui-se, com este trabalho de tese, que a trajetória profissional dos
professores é uma contínua construção de identidade baseada em suas experiências, cultura e
história. Entretanto, a constituição da identidade profissional dos professores de língua
portuguesa, que atuam em contextos campesinos do município de Alegre/ES, está condicionada
à restrição de autonomia e de liberdade para o exercício da profissão docente, em decorrência
das políticas educacionais regulatórias do sistema capitalista.