A presente tese é composta por cinco estudos que originaram cinco artigos e três produtos técnicos em formato de vídeo. No primeiro estudo (artigo 1), por meio de uma revisão sistemática, objetivou-se comparar a sensibilidade pós-operatória (SPO) e o desenvolvimento de novas lesões de cárie nas margens de restaurações (LCMR) de dentes decíduos e permanentes restaurados com ou sem materiais liberadores de flúor (MLF e MSF, respectivamente). Buscas foram realizadas em 6 bases eletrônicas e na literatura cinza. Avaliaram-se o risco de viés (ROB2) e a certeza da evidência (GRADE). Metanálises foram conduzidas para os desfechos LCMR e SPO, considerando o período de acompanhamento (12, 18-24 e ≥36 meses), dentição, o tratamento em única ou múltiplas superfícies e o tipo de isolamento utilizado. Foram selecionados 46 estudos, tendo, a maioria, risco de viés moderado (n=29). Após 36 meses de acompanhamento, dentes restaurados com MLF tiveram menor risco de novas lesões (RD -0.015 [-0.024, -0.006] p=0.002 I2=0%). O risco de SPO foi similar entre os dois materiais (RD -0.003 [-0.016, 0.009] p=0.608, I2=0%). O tipo de dentição, as superfícies tratadas e o isolamento não influenciaram nos desfechos (p>0,05). A certeza da evidência variou de baixa à moderada para LCMR e de muito baixa à moderada para SPO. O estudo 2 deu origem ao segundo artigo, cujo objetivo foi desenvolver uma revisão bibliométrica sobre o uso do diamino fluoreto de prata (DFP) no manejo de lesões de cárie e hipersensibilidade dentinária. Buscas em 6 bases foram conduzidas por dois pesquisadores independentes, que selecionaram ensaios clínicos randomizados (ECR) e não randomizados que tivessem, como uma das intervenções, o DFP para tratamento/prevenção de cárie ou hipersensibilidade dentinária. As análises descritivas quanto às características dentárias, tipo de estudo, local de realização do tratamento, população, protocolo de aplicação e tipo do DFP, desfecho, ano, país e autores de publicação do estudo foram realizadas com auxílio do VantagePoint® e Microsoft Excel®. Dos 53 estudos incluídos, a maioria era ECR (n=38), que utilizou o DFP a 38% (n=43), isoladamente (n=44), em múltiplas superfícies (n=44), na dentina (n=36) coronária (n=46) de dentes decíduos (n=39) anteriores e posteriores (n=36). Os estudos foram conduzidos, preferencialmente, fora do consultório (n=31), apenas em crianças (n=33), com reaplicação do DFP (n=30), mas sem
informação do tempo de aplicação (n=19). O DFP foi mais utilizado para tratar (n=46) lesões de cárie (n=50), e os artigos foram publicados entre 2001-2022. O Journal of Dentistry (n=10), a China (n=19) e Lo E.C.M (n=19) foram, respectivamente, o periódico, país e o autor que mais publicaram. O terceiro estudo (artigo 3) comparou o custo-efetividade do tratamento restaurador atraumático (TRA) ao do DFP para o tratamento de lesões de cárie em molares decíduos de pré-escolares. Para realização da análise extraíram-se dados de um ECR que comparou a eficácia
do TRA ao do DFP quanto aos seguintes parâmetros: paralisação das lesões de cárie, tempo de realização dos procedimentos e qualidade de vida relacionada à saúde bucal (QVRSB). Foram gerados modelos de Monte Carlo, considerando coortes hipotéticas de 1.000 indivíduos e calculado o benefício monetário líquido (BML). Uma abordagem de aprendizado de máquina também foi usada para prever a melhor intervenção. O TRA apresentou custo maior em todos os modelos e o DFP foi mais eficaz quanto ao tempo de tratamento e QVRSB, mas menos eficaz
na paralisação da lesão de cárie. No entanto, para todos os desfechos, o DFP apresentou maior BML e, portanto, melhor custo-efetividade (p<0.001). Na abordagem de aprendizado de máquina, o DFP mostrou ser a melhor opção para tratar lesão de cárie em 63,1% dos casos. Com o quarto estudo (artigo 4) foi possível investigar a influência do conhecimento prévio de responsáveis por pré-escolares sobre o DFP, na aceitabilidade/percepção quanto ao uso desse produto para tratamento de lesões de cárie de seus filhos. Os responsáveis (n=82) foram randomizados em grupos: teste – receberam informações sobre DFP por meio de vídeo (n=42), e controle – não receberam informações (n=40). Todos responderam a um questionário contendo perguntas sobre o uso do DFP, considerando seu o uso em dentes anteriores e posteriores. Como opções de resposta (sim/talvez/não) para cada questão (n=12), foram
atribuídas pontuações (0 a 2). Quanto menor a pontuação total (0-24 pontos), melhor a aceitação e percepção do tratamento. Os testes X2 e Mann-Whitney foram utilizados para comparações entre grupos. Os participantes (36,43 ± 9,98 anos) apresentaram a pontuação de 6,98 (±4,33) no grupo teste e 8,45 (±4,87) no controle (p=0,683). Considerando o uso do DFP em dentes anteriores, o grupo teste apresentou melhor aceitação (p=0,027). Em relação à percepção quanto ao uso do DFP, nenhuma diferença entre os grupos foi observada (p>0,05). O estudo 5
(artigo 5) objetivou desenvolver e testar in vitro uma nova solução cariostática de zinco e fluoreto (ZF) e avaliar seu efeito na paralisação e pigmentação das lesões de cárie, em comparação a diferentes soluções comerciais de DFP com e sem a aplicação do iodeto de potássio (KI). Blocos bovinos (n=78) foram preparados e fixados aleatoriamente em placas de 24 poços. Cada poço recebeu um inóculo bacteriano misto adicionado ao meio de cultura com 5% de sacarose. As placas foram incubadas em microaerofilia (7 dias) para formação de lesões de cárie. As lesões foram tratadas de acordo com os grupos: G1 - DFP 38% + KI (Riva Star); G2 - DFP 38% (Riva
Star); G3 - DFP 38% + KI (Riva Star Aqua); G4 - DFP 38% (Riva Star Aqua); e G5 - ZF. O grupo não tratado representou o controle de crescimento (G6). Após tratamento, as amostras foram submetidas a novo desafio cariogênico, por 48 horas. O pH e a concentração de flúor (F) da solução de ZF foram aferidos. O pH do meio de cultura e os valores de microdureza Knoop (KHN) foram avaliados, bem como a alteração de cor antes, imediatamente e 48 após os tratamentos. Os testes de Kruskall-Wallis e ANOVA seguido do teste de Tukey foram usados para
comparação entre os grupos e o teste de Wilcoxon para comparação intragrupo (p≤0,05). A solução de ZF apresentou pH neutro (7,0) e concentração de 15.534,13 ± 436,19µg F/mL. O pH do G5 foi semelhante ao do G1 e do G3 (p>0,05) após os tratamentos, mas inferior ao do G2 e do G4 (p<0,05), sem diferença para o G6. Nenhum dos grupos apresentou alteração do KHN após o tratamento, demonstrando paralisação da lesão de cárie, exceto o G6 (p<0,05). O G5 apresentou menor pigmentação das lesões de cárie após 48 horas de tratamento, em comparação a todos os grupos (p<0,05), sendo semelhante ao G6. A mudança de cor foi semelhante entre G5, G3 e G6. Como produtos técnicos, três vídeos sobre o tratamento com DFP foram desenvolvidos, sendo um voltado para leigos e dois para cirurgiões-dentistas. O intuito de todos é informar sobre as características, vantagens e desvantagens do uso do DFP, e contêm ilustrações/fotografias com áudio e legenda, com duração de 2 a 3 minutos. Utilizou-se linguagem apropriada para cada público-alvo, e a produção foi na plataforma PowToon®. Os vídeos informativos foram disponibilizados no Youtube®, onde apresentaram de 15 a 16 visualizações, e na página do Instagram da CliBin®, sendo visualizado 1.890 vezes. Conclui-se que MLF e MSF apresentaram riscos semelhantes de SPO, mas MLF são mais eficazes na prevenção de LCMR após 36 meses. Os dados bibliométricos mostraram que o DFP 38% não associado a outro produto foi o mais utilizado para tratar lesões de cárie em dentina coronária de dentes decíduos, sendo aplicado preferencialmente em múltiplas superfícies, e realizado mais comumente fora do ambiente de consultório. O DFP provou ter melhor custo-efetividade que o TRA no tratamento de lesões de cárie em molares decíduos e, considerando o seu uso em dentes anteriores, também demonstrou melhor aceitação e percepção por parte dos cuidadores que receberam informações prévias sobre ele. Além disso, a nova solução cariostática de ZF apresentou a mesma acidogenicidade dos produtos comerciais com DFP e KI, sendo capaz de paralisar as lesões de cárie, sem pigmentá-las. Assim, ele se apresenta como um promissor material na paralisação de lesões de cárie em dentina quando comparado ao DFP, cujos benefícios, vantagens e desvantagens desse último foram acessadas por dentistas e leigos em plataformas digitais, por meio de vídeos.