A presente tese consiste em quatro estudos, que originaram quatro artigos, e dois produtos técnicos. O estudo 1 é uma revisão sistemática que investigou a associação entre o baixo nível sérico de 25(OH)D (vitamina D) e defeitos de desenvolvimento dentário (DDD) em dentes decíduos humanos. A qualidade dos estudos incluídos (n=7) foi avaliada pela escala NOS e a certeza da evidência pelo GRADE. Apenas defeitos de desenvolvimento do esmalte (DDE) foram observados nos 7 estudos. A prevalência de DDE variou de 8,9% a 66%. Um estudo identificou associação entre hipomineralização do segundo molar decíduo e baixos níveis de Vitamina D no cordão umbilical. Falhas metodológicas foram observadas em todos os estudos. O estudo 2 visou identificar possíveis efeitos da exposição a metais no desenvolvimento de defeitos e alterações de erupção dos dentes decíduos, de animais ou
humanos, por meio de uma revisão de escopo. A qualidade metodológica foi averiguada por ferramentas de avaliação crítica do Joanna Briggs Institute. Cinco estudos em humanos compuseram a revisão, 4 transversais e um de coorte. Entre eles, dois observaram maior rugosidade ou degradação na superfície de dentes com maior concentração de cádmio e chumbo e um detectou correlações positiva e negativa, respectivamente, entre o nível de cobalto e o tempo de erupção do primeiro dente, e o número de dentes presentes aos 12 meses de vida. Risco de vieses foram observados em todos os estudos, especialmente nos transversais, entre os quais, somente um estudo não falhou em todos os itens do instrumento utilizado para qualificação. O estudo 3 objetivou investigar a influência dos níveis séricos de vitamina D, cálcio e de metais pesados na ocorrência de DDE em incisivos decíduos de
bebês em uma coorte de nascimento. Níveis séricos de vitamina D, cálcio, arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio no sangue do cordão umbilical foram analisados. Além disso, dados pré e perinatais foram coletados por entrevistas e prontuários. Exames clínicos dos bebês, aos 3, 6, 12 e 24 meses, foram realizados por um único examinador, calibrado para o Índice DDE modificado e cego para os níveis séricos no cordão umbilical. Os exames odontológicos
foram conduzidos para detecção de presença/ausência de DDE nos incisivos decíduos. Também foram avaliados tipo, cor, localização e gravidade dos DDE. As proporções das variáveis estudadas foram comparadas entre os bebês com e sem DDE, por meio do teste qui-quadrado. Utilizaram-se modelos de regressão de Poisson para estimar os riscos relativos brutos e ajustados e seus respectivos IC 95%. Dos 306 bebês, 52,3% eram meninos, filhos de mães que fizeram uso de medicamentos (93%), suplementos vitamínicos (SV) (89,9%), álcool (38%) e tabaco (11,4%); além de terem apresentado diabetes (27,9%), hipertensão (19,6%) ou infecção (14,6%) durante a gestação. A média da idade gestacional foi de 38,02 semanas e 14,4% dos nascimentos foram prematuros. A maioria dos bebês apresentava peso
normal (88,8%), tamanho adequado (88,1%), índice APGAR ≥ 7 no 1º minuto (88,6%) e mamava exclusivamente no peito quando recebeu alta da maternidade (AE) (90,6%). A maioria apresentava níveis normais de vitamina D (52,6%) e cálcio (76,3%), enquanto os níveis de chumbo (60,5%) e mercúrio (55,2%) foram ≥ à mediana (0,800 µg/L). A incidência de DDE entre os bebês foi de 27,1% (83/306), sendo a opacidade demarcada o tipo mais comum. Vinte e seis bebês (26/83; 31,3%) apresentavam DDE em mais de um dos terços do 11 dente, 3 (3/83; 3,6%) tinham DDE de cor amarela ou marrom e 27 (27/83; 32,5%), DDE severo. O chumbo esteve associado à presença de DDE nos incisivos [1,616 (1,035;2,524)], exceto nos modelos ajustados pelo uso de SV durante a gestação e AE na alta, enquanto o
mercúrio esteve associado ao DDE neste último modelo [1,588 (1,019; 2,475)]. O estudo 4 avaliou o papel dos plastificantes nos DDD em dentes decíduos ou permanentes através de uma revisão de escopo. De 1.716 estudos, 9 foram incluídos: 8 experimentais em ratos e um caso-controle em humanos. Crianças de mães expostas, na gestação, ao Bisfenol A (BFA), são 2,9 vezes mais sujeitas à hipomineralização molar incisivo; já em ratos expostos ao BFA
ou di-(2- ethylhexyl) phthalate (DEHP), encontraram-se DDE e alterações do comprimento e da forma dentária. Quase todos investigaram proteínas e genes afetados pelo BFA (n=7) e DEHP (n=1), e detectaram polimorfismos em genes envolvidos na amelogênese. Os produtos técnicos 1 e 2 foram desenvolvidos como ferramentas de orientação em saúde bucal e nutricional, em linguagem simples, tendo como público-alvo gestantes ou futuras gestantes e responsáveis por crianças. Abordam o período dos primeiros 1000 dias de vida, sua importância para a saúde geral e bucal do indivíduo e descrevem hábitos e atitudes saudáveis de alimentação e higiene bucal, fundamentais para o período pré-natal e após o nascimento. Ambos estão registrados na Plataforma Pantheon UFRJ e foram utilizados para orientação dos responsáveis pelos bebês da coorte de nascimento do estudo 3. Conclui-se que a evidência disponível sobre a associação entre baixos níveis de vitamina D e DDE continua de muito baixa certeza. A exposição a alguns metais parece interferir na composição mineral dos dentes decíduos, sendo que estudos longitudinais bem desenhados são necessários para investigações adicionais adequadas. Assim, por meio do estudo de coorte, foi visto que principalmente o chumbo foi associado à presença de DDE nos incisivos decíduos de bebês.
Quanto aos plastificantes, pouco se sabe a respeito do seu papel no desenvolvimento dentário de humanos, mas parece que a exposição a BFA e DEHP acarreta maior risco aos DDE e mudanças no comprimento e forma de incisivos em ratos. Além disso, o BFA pode ser um agente etiológico de DDE em humanos. Acrescenta-se que colaborar para o letramento em saúde de uma população leiga é papel da comunidade acadêmica. Desta forma, os produtos
técnicos contribuem de forma primorosa, adaptando a linguagem de seus e-books à população alvo.