A Baixada Fluminense é um espaço racialmente conflituoso. Os processos que levaram a sua estrutura atual são caracterizados por disputas envolvendo entes racistas e antirracistas desde o período colonial. Atualmente, a Baixada Fluminense é uma região cuja maioria de sua população é negra, por isso, é alvo de políticas públicas e outras ações espaciais articuladas entre as classes hegemônicas que buscam controlá-las através de discriminações sistêmicas, legitimadas e reproduzidas devido e pela ideologia racista presente no imaginário social, logo, na sua estrutura espacial. Por isso, uma das estratégias utilizadas para consolidar o racismo praticado contra a população da Baixada será a criação e difusão de imagens negativas atreladas à região, tratando-a como região de doenças, suja e perigosa, cuja única solução seria a própria violência. Todos esses fatores ocorrem ao mesmo tempo em que a sua população apresenta diversas articulações que manifestam a resistência dos seus corpos, culturas, identidades e da sua própria existência. Essa característica conflituosa da região tornará algumas de suas formas espaciais em arenas que serão disputadas também entre grupos que buscam a manutenção do racismo e legitima a discriminação para o controle da população da Baixada e outros que objetivam a reprodução de conhecimentos e informações que contribuam para o desenvolvimento de uma consciência espacial antirracista, que fortaleça a resistência e desconstrua o racismo como um dos fatores ordenadores das diversas discriminações existentes contra a sua população. Diante desse contexto, as escolas da Rede Federal de Ensino se tornam alvo de políticas públicas para a expansão até áreas periféricas no início dos anos 2000 e chegam na Baixada Fluminense, sendo influenciadas por essa realidade espacial. O prestígio que essas instituições carregam junto à qualidade do serviço oferecido tornarão essas escolas almejadas por boa parte da população da região, levando a motivação dessa pesquisa de tornar as práticas educativas envoltas na geografia ensinada nessas escolas como objeto de estudo. Sabendo da relevância da geografia na formação da consciência espacial do aluno, será delimitado nessa pesquisa o papel exercido pela geografia ensinada na perspectiva racial nas escolas da Rede Federal de Ensino. A hipótese dessa pesquisa sugere que a geografia ensinada nessas escolas é influenciada pela realidade espacial da região, e apresenta aspectos, tanto racistas quanto antirracistas no desenvolvimento de seu ensino. Seguindo a linha de raciocínio, o objetivo dessa pesquisa é investigar como a dimensão racial conflituosa da Baixada Fluminense se manifesta pela geografia que está sendo ensinada no ensino médio dos colégios da Rede Federal de Ensino na região. Para alcançá-lo, há três objetivos específicos: compreender a dimensão racial por dentro da geografia que é ensinada no Brasil; evidenciar o conflito racial por dentro dos processos históricos que levaram à atual configuração espacial da Baixada Fluminense; examinar, com ênfase nas questões raciais, os currículos e as práticas docentes dos professores de geografia dos Colégios da Rede Federal de Ensino da região. Para isso, a metodologia dessa pesquisa é composta por uma abordagem qualitativa, através de uma análise documental das escolas delimitadas, e bibliográfica, sob uma perspectiva dos conceitos de espaço geográfico, suas formas e funções, estruturas e processos e racismo estrutural. Além disso, também houve a aplicação e análise de entrevistas com professores de geografia das escolas pesquisadas. Portanto, tal pesquisa permitiu identificar como alguns aspectos dos conflitos raciais na Baixada Fluminense e na própria educação escolar se manifestam dentro da geografia que está sendo ensinada nos colégios federais da região.