A pitangueira, Eugenia uniflora L. (Myrtaceae), possui hábito arbustivo, é nativa da mata
atlântica com grande ocorrência em ecossistemas de restinga. A pitanga é utilizada na culinária,
medicina tradicional e apresenta importante papel ecológico. Todavia, tem sido explorada como
fonte de produtos naturais, como os óleos essenciais, principalmente no preparo de cosméticos
e na aromaterapia. Tendo em vista o potencial econômico que a pitangueira apresenta, foi
proposto o estudo com base no teor (%) e na diversidade química dos óleos essenciais obtidos
de plantas acessados in situ, bem como a atividade sobre fungos de interesse agrícola. Na
primeira etapa, foi avaliada a cinética de destilação de folhas de pitangueira, visando
compreender o efeito do tempo de destilação sobre o teor e o perfil químico dos óleos essenciais.
A segunda etapa, consistiu em um trabalho de campo que permitiu a coleta de folhas, ramos e
material propagativo de 20 espécimes de pitangueira, coletadas no litoral norte do Estado do
Rio de Janeiro, que permitiu avaliar o teor (%) e o perfil químico dos óleos essenciais. Na
terceira e última etapa, foi avaliado o potencial tóxico dos óleos essenciais obtidos de alguns
exemplares sobre os fungos Colletotrichum gloeosporioides e Pestalotia sp, que são
fitopatogênicos. A hidrodestilação de folhas secas foi o método utilizado para a obtenção dos
óleos essenciais. O teor dos óleos essenciais foi calculado com base na matéria seca de folhas
e expresso em teor (%, m/m). A análise química dos óleos essenciais foi baseada na
cromatografia em fase gasosa acoplada ao detector de ionização por chama (CG-DIC) e ao
espectrômetro de massa (CG-EM). A atividade toxica dos óleos essenciais contra os fungos foi
realizada pelo método da diluição em meio de cultura batata-dextrose-agar, em diferentes
concentrações. Os dados obtidos após os experimentos foram submetidos as análises estatísticas
descritivas, univariadas e multivariadas para a interpretação dos dados. Os resultados da
cinética de destilação de folhas de pitangueira demonstraram que o intervalo de tempo ótimo
para a extração do óleo essencial se encontra entre 2h e 3h. No estudo de diversidade química
de óleo essencial de E. uniflora, foi possível observar variações de 0,28 à 3,5% e média de 1,9%
(m/m) para o teor de óleo essencial, sendo o maior teor observado na planta EU31. Foram
identificadas 51 substâncias químicas, entre as quais selina-1,3,7(11)-trien-8-ona, selina-
1,3,7(11)-trien-8-ona epoxido, globulol, germacreno B, espatulenol, curzereno e β-elemeno
foram as que apresentaram maior frequência e/ou proporção no óleo essencial. Foi definido o
nome para quimiotipos com base na dominância de substâncias no óleo essencial e, entre eles,
o quimiotipo com maior frequência foi o selina-1,3,7(11)-trien-8-ona/ selina-1,3,7(11)-trien-8-
ona epoxido com 11 representantes. A análise de agrupamentos hierárquicos apontou a
formação de 9 grupos de óleos essenciais com perfil químico semelhantes. Todos os óleos
essenciais testados apresentam toxicidade contra fungos, com destaque ao obtido da planta
EU31. Os resultados confirmaram a existência de quimiodiversidade intraespecífica para a
pitangueira e potencial para a exploração biotecnológica da planta e dos óleos essenciais.