O conceito de Saúde Única reconhece a interdependência entre a saúde humana, animal e ambiental, enfatizando que fatores como a biodiversidade, o uso de antimicrobianos e a interação entre diferentes ecossistemas podem influenciar diretamente a disseminação de patógenos e a resistência bacteriana. Dentro desse contexto, as aves necrófagas, como o urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura), desempenham um papel ecológico fundamental na eliminação de matéria orgânica, mas também podem atuar como potenciais reservatórios e disseminadores de microrganismos, inclusive bactérias resistentes a antibióticos. Apesar dessa relevância, há poucas investigações sobre a microbiota dessas aves e seu impacto na cadeia epidemiológica. Este estudo teve como objetivo identificar enterobactérias presentes na microbiota cloacal e respiratória de urubus-de-cabeça-vermelha e avaliar sua suscetibilidade a antimicrobianos. As amostras foram coletadas no Aeroporto Internacional de Val-De-Cans, em Belém, Pará, preservadas em meio de Stuart e analisadas no Laboratório de Microbiologia da Universidade Federal do Pará. Para o isolamento bacteriano, utilizou-se incubação em BHI e cultivo em ágar MacConkey, e a suscetibilidade antimicrobiana foi avaliada pelo método de difusão em disco de Kirby-Bauer. Os resultados revelaram a presença de resistência antimicrobiana em Escherichia coli, Klebsiella aerogenes e Enterobacter cloacae isoladas da cloaca e coana dos urubus analisados. Além disso, algumas cepas de E. coli e Citrobacter freundii foram classificadas como multirresistentes, evidenciando um risco potencial para a disseminação de genes de resistência no ambiente. Esses achados reforçam a importância da abordagem de Saúde Única e evidenciam a necessidade de uma vigilância epidemiológica integrada, considerando a interface entre a vida selvagem, a saúde humana e os impactos ambientais na disseminação da resistência bacteriana.