Nosso trabalho tem como objetivo analisar o tratamento dado aos gêneros discursivos em planos de aula de Língua Portuguesa que se propõem a trabalhar a análise linguística, disponíveis no site Portal do professor. Para tanto, apoiamo-nos nos pressupostos do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2011; MEDVIÉDEV, 2016; BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2009) sobre linguagem, enunciado e gêneros discursivos. Respaldamo-nos, também, em Faraco (2009), Rodrigues (2001; 2004; 2005), Acosta (2008) e Maieski (2005), que assumem esses pressupostos em seus estudos. Por fim, para tratar de ensino de língua materna, focalizando principalmente a prática de análise linguística, fundamentamo-nos também em Mendonça (2006; 2007), Geraldi (2012), Santos, Riche e Teixeira (2012) e Reinaldo e Bezerra (2013). Quanto à metodologia, o trabalho se caracteriza como uma pesquisa interpretativa e assume uma abordagem qualitativa O corpus encontra-se constituído de 11 (onze) planos de aula, direcionados a alunos do Ensino Fundamental Final e cada um explora um determinado gênero. As análises nos permitiram constatar que os gêneros privilegiados nos planos de aula, tais como: notícia, editorial, artigo de opinião, carta do leitor, classificados, mito, crônica humorística, cartão postal, horóscopo, relato de experiências vividas e diário, pertencem às esferas: jornalística, literária e cotidiana, as quais se constituem de formas distintas e, por conseguinte, revelam diferentes interesses que se materializam nos gêneros que a elas pertencem. Quanto à forma como são explorados os gêneros nos seus aspectos temáticos, estilísticos e composicionais, percebemos que a abordagem destes se limita muito mais ao estudo da materialidade linguística dos textos-enunciados do que aos sentidos que emanam desses aspectos nas situações reais de enunciação em que os sujeitos fazem uso da palavra. No que se refere aos elementos linguísticos e discursivos explorados nos planos, constatamos um número maior de questões que se detém aos aspectos linguísticos, em detrimento dos aspectos discursivos, apontando, pois para um tratamento de gêneros restrito à localização de informações, uma vez que os textos-enunciados servem mais como pretexto para identificação de elementos linguísticos, dissociados das intenções enunciativas dos autores, do que para viabilizar a compreensão, por parte do aluno, da mobilização desses elementos na produção de sentidos. Tais resultados sinalizam para a necessidade de o professor dispor de embasamento teórico e de se constituir como autor de sua própria prática, para avaliar até que ponto esses planos de aula, que circulam na internet (mais precisamente no Portal do professor) podem contribuir para o ensino e a aprendizagem dos gêneros, sobretudo, em perspectiva discursiva.